Último filme da Disney concebido no formato da
animação tradicional, “A Princesa e O Sapo” é menos um gesto para preservar uma
técnica que ficava no passado e mais um reconhecimento ao legado de animações
clássicas inesquecíveis que os estúdios deixaram.
Prova de seu olhar dirigido ao futuro e à
inovação é que a animação (a cargo dos veteranos Ron Clements e John Musker,
realizadores de “A Bela e A Fera”, “Aladdin” e outros) traz orgulhosamente a
primeira princesa negra ao panteão das protagonistas Disney.
E essa escolha termina determinando ao filme o
seu contexto, seu estilo e sua ambientação.
Em meados da década de 1920, na folclórica e
exótica Nova Orleans, a jovem Tiana se dedica arduamente a realizar um sonho
almejado pelo falecido pai: Abrir um restaurante.
Obstinada e independente, como todas as
protagonistas das quais a Disney se encarregou a partir dos anos 1990
–modificando o molde pré-emancipação com que essas personagens eram antes
trabalhadas –Tiana não tem, nem de longe, em seus planos, a espera por um
príncipe encantado, todavia, é com o caminho de um que ela vem a cruzar-se: O
festejado (e festeiro) Naveen chega a cidade e, boêmio incorrigível, só pensa
em fazer farra e música, para desespero de seu rancoroso mordomo.
Aliado ao maquiavélico feiticeiro vodu
Facilier, tal mordomo irá colocar o patrão numa enrascada: Através de magia,
assumirá a forma de Naveen a fim de cortejar uma jovem rica, enquanto o Naveen
de verdade é aprisionado na forma de sapo.
Ao fugir, inspirado pelo famoso conto do
“Príncipe Sapo”, Naveen convence Tiana –trajada em vestes de princesa já que
estava numa festa à fantasia –a dar-lhe um beijo a fim de quebrar o feitiço.
Entretanto, como Tiana não é uma princesa real, é ela quem se converte em sapo
(!).
Na forma de pequenos anfíbios, o casal deve
então atravessar os perigos inúmeros dos pântanos da Louisiana para encontrar
um meio de serem humanos outra vez.
E é, portanto, lógico que, na cartilha um tanto
evidente (mas, nem por isso menos envolvente) das animações Disney, Tiana e
Naveen irão encontrar, na incompatibilidade irritante e oposta de suas
personalidades, o amor, à medida que avançam rumo ao desfecho senão feliz, ao
menos satisfatório que vislumbram para suas vidas.
Amparado num roteiro
repleto de personagens até subversivos no ímpeto de romper arquétipos, e numa
trama de ramificações que encontram inesperada complexidade em seus meandros,
“A Princesa e O Sapo” reflete, em tais características, a intervenção de John
Lasseter (da Pixar) no Departamento de Animação que ele começou a chefiar por
aqueles anos –a fé inabalável na capacidade dos pequenos em compreender uma
trama mais inteligente, a disposição em agregar conceitos ainda inovadores como
a representatividade, e uma compreensão intrínseca do legado de Walt Disney são
as características que ele importou diretamente do genial estúdio animado que
ajudou a criar –e, como nele, o Departamento de Animação da Disney passou a
adotar em definitivo a animação computadorizada (a obra seguinte foi
“Enrolados”, inspirado em “Rapunzel”), o que torna “A Princesa e O Sapo” o
emblemático trabalho final feito com uma técnica e com uma linguagem que, em
prol do avanço tecnológico e da proximidade com seu jovem público, os Estúdios
Disney tiveram de deixar para trás.
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