segunda-feira, 6 de maio de 2019

Oito Mulheres e Um Segredo

Amigo de longa data de Steve Sodenbergh, o diretor Gary Ross (de “Seabiscuit” e “Jogos Vorazes”), não pestanejou quando surgiu-lhe a oportunidade de reverenciar a mais lucrativa e bem-sucedida realização dele: O formidável filme de assalto “Onze Homens e Um Segredo” que refilmava com pompa e circunstância um filme estrelado por Frank Sinatra e rendeu toda uma trilogia de relativo sucesso.
A nova versão de Ross pega carona num esforço artístico em Hollywood em enaltecer protagonistas femininas, e é a partir desse ímpeto que chegamos à personagem de Debbie Ocean (Sandra Bullock), não só irmã do protagonista Danny Ocean vivido por George Clooney, mas também introduzida de modo muito semelhante a ele próprio no primeiro filme.
Debbie sai da cadeia após uma pena de cinco anos. E sai com um plano meticulosamente arquitetado. Ainda nebuloso (embora maiores informações não tardem a chegar), o plano de Debbie não deixa imediatamente claro os detalhes de sua execução e nem, no fim das contas, os objetivos verdadeiros por trás dele.
É no andamento característico de um filme clássico de assalto –e que Sodenbergh soube executar como ninguém –que o diretor Ross demonstra estar se esbaldando: Ele saboreia cada etapa, desde o recrutamento das aliadas até o planejamento do golpe e, por fim, sua tensa e inquieta realização.
Na primeira dessas etapas, ele introduz o elenco notável que conseguiu arranjar: Além de Bullock (cuja excessiva sisudez da protagonista atrapalha suas chances de revelar-se simpática), há também Cate Blanchett como Lou, a aliada N° 1 de Debbie; a divertida Helena Bonham-Carter como a estilista Rose Weil; a prestidigitadora Constance (Awkwafina), capaz de roubar um relógio de pulso debaixo do nariz do dono; a hábil hacker Bola 9 (a cantora Rihanna); a especialista em jóias Amita (Mindy Kaling) e a comparsa Tammy (Sarah Paulson).
A intenção é roubar um colar de diamantes de valor vultuoso durante as festividades do Baile Met Gala, em Nova York, repleto de celebridades.
Uma dessas celebridades vem a ser Daphne Kluger (Anne Hathaway, a mais sensual, mas também a mais histriônica do elenco) que o grupo reunido em torno de Debbie irá tramar para que seja a pessoa a usar o colar naquela noite. Trajada num vestido desenhado por Rose Weil, observada de perto pela infiltrada Tammy, e vigiada de perto pelas tecnologias de segurança que Bola 9 tratará de burlar, ela será, no momento certo, um alvo fácil para as mãos ágeis de Constance que irá tirar-lhe o colar e passa-lo à Amita (instruída a desmontá-lo) e à Lou.
Na referência clara e nada disfarçada que concebe, Gary Ross se coloca, de livre e espontânea vontade, numa espécie de armadilha: Pelo mesmo formato narrativo que adota, o clima, o ritmo e a atmosfera similares que evoca, e até por algumas bem-vindas participações especiais (Elliot Gould e Qin Shaobo marcam presença, e bem que George Clooney podia ter aparecido também...), tudo em seu filme faz lembrar “Onze Homens...” e, por consequência, com ele ser comparado –e por esse prisma, o filme de Ross, ainda que simpático e gracioso, não chega aos pés da excelência da obra de Steve Sodendbergh.

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