Em sua estreia no cinema, o diretor Eugene Carr
esbanja sensibilidade na analogia que estabelece entre o desabrochar palpitante
e irreprimível de todas as descobertas adolescentes –em especial, aquelas de
natureza mais intimista –e a manifestação da bomba atômica como arma de
lamentável destruição e, paradoxalmente, de indiscutível beleza
cinematográfica; daí a cena que dá nome ao filme, onde vemos o exuberante
cogumelo propagado pela detonação nuclear simbolizando tanto o viés incontrolável
dos desejos e anseios juvenis quanto da própria arma que os seres humanos
conceberam.
É, portanto, presumível que a trama se ambiente
assim nos EUA dos anos 1950. Em Las Vegas, no Deserto de Nevada, onde os testes
nucleares estão em afoito andamento, se desenrola uma trama, por sua vez, mais
distinta, mundana e pessoal.
É a história da jovem Rose Chismore (Annabeth
Gish) sob a ótica da qual veremos os aspectos disfuncionais de todos os membros
de sua família: O padrasto (Jon Voight), vitimado por stress pós-traumático
devido à guerra da Coréia, e resignado no alcoolismo, o quê só o torna ainda
mais problemático; a mãe (JoBeth Williams) indiferente e alienada; o jovem que
converteu-se em seu primeiro amor; e a tia (Ellen Barkin) vivaz, melindrosa e
espalhafatosa que, por algum tempo, representa um oásis de diversão em meio ao
tétrico caos familiar –até ela própria representar também ser um elemento
desestabilizador para a harmonia do lar.
Das primeiras realizações à aproveitar
financiamento do Sundance Institute –que o astro Robert Redford fundou para
viabilizar projetos de novos talentos –em meados dos anos 1980, esta é uma
realização independente que se beneficia da autonomia que a originou. Pode
assim se dar ao luxo de ser um drama intrincado (quando qualquer obra partida
de tal tema se obrigaria a ser forçosamente simplória para se manter
comercial), de abordar assuntos com seriedade mais palatável do que
melodramática (não só as angustias da juventude e as mazelas de núcleos
familiares de classe média-baixa, como também as repercussões e desdobramentos
do momento histórico notavelmente reconstituído e retratado) e de oferecer
desafios reais à bons atores normalmente atrelados a um arquétipo quando se
trata de suas participações no cinemão comercial –ainda que, no fim das contas,
Jon Voight continue confortável no papel de neurótico ameaçador e Ellen Barkin
(de “Vítimas de Uma Paixão”) no de mulher sensual.
O desfecho, que se pretende
impactante, é ligeiramente comprometido pelo ritmo deliberadamente lento e
contemplativo, mas isso não tiro o brilho desta obra reminiscente, sensível e
adulta –e infelizmente, bastante desconhecida do grande público.
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