quarta-feira, 31 de julho de 2019

A Minha Casa Caiu

A atriz Elizabeth Banks é o tipo de profissional que ocupou Hollywood pelas beiradas. Sem consolidar-se como estrela, ela foi galgando papéis menores de coadjuvante em boas produções até ganhar algum destaque; uma de suas primeiras aparições foi na “Trilogia Homem-Aranha”, de Sam Raimi, no papel de Betty Brant, ela apareceu também em “Seabiscuit-Alma de Herói”, e vários outros filmes depois, até descolando protagonismo em alguns, como “W”, de Oliver Stone.
Embora seja bastante lembrada pela Effie Trinket, de “Jogos Vorazes”, ou pela Rita Repulsa, de “Power Rangers”, muitos a associam ao gênero de comédia, talvez pelas participações (menor) em “O Virgem de 40 Anos” e (maior) em “Pagando Bem Que Mal Tem”.
É essa faceta comediante –nunca devidamente justificada, verdade seja dita –que a atriz tenta empurrar ao público nesta sua primeira tentativa em segurar um filme inteiro nas costas, como estrela de fato.
Para exercer a função que exerce (a de veículo para sua protagonista), o filme é definido por clichês: Elizabeth interpreta Meghan Milles, âncora de telejornal que disputa uma vaga num canal de maior expressão.
É perfeitamente previsível sua desilusão para com esse intento (ela perde a vaga) e, na sequência, a decisão de mandar às favas o obstinado papel de boa moça para extravasar numa noitada com as amigas –incentivada, ainda por cima, pelo súbito rompimento com o noivo.
Assim como é também previsível a reviravolta na manhã seguinte, quando deve voltar à emissora para ser reavaliada e tentar uma nova chance para obter o emprego de sua vida. Entretanto, Meghan acorda no apartamento de um estranho (vivido por James Marsden, o Ciclope da primeira geração dos “X-Men”), com uma irrisória minissaia amarela –na qual todos a tomam por garota de programa (!) –no meio de um bairro suburbano, sem carro (foi guinchado), sem celular (ela esqueceu dentro do apartamento do dito cujo) e sem dinheiro.
O objetivo de Meghan –que nem fica muito claro assim –neste arremedo feminista e bem menos coerente de “Depois de Horas”, de Martin Scorsese, é encontrar um meio de singrar esse subúrbio cheio de encrencas a espreitar a cada esquina, e chegar até a emissora de TV em tempo hábil e com a sua imagem de boa moça intacta; tarefas que, ao longo do filme, é igualmente previsível que Meghan encontrará sucessivas dificuldades em cumprir.
Embora Elizabeth Banks, e até mesmo o simpático James Marsden, levem jeito para comédia, nenhum deles rende satisfatoriamente aqui, em grande parte porque a narrativa força uma alternância cândida entre um humor aflitivo e uma simpatia agridoce no objetivo de chegar a um desfecho cheio de moralismo –e eis aí outro ponto previsível.
Indo de encontro a tantas boas intenções, o filme do diretor Steve Brill se esquece de provocar o expectador com aquele saudável ímpeto de atrevimento e certa rebeldia que configuram as entrelinhas nas premissas de algumas das melhores comédias desse estilo –aquele no qual os protagonistas precisam passar por toda uma odisséia frequentemente surreal para chegar bem-sucedidos e vitoriosos do outro lado, e no processo fazer rir ou pensar (ou ambos). Dessa categoria fazem parte, além de “Depois de Horas”, o ótimo “Não Tenho Troco”, de Bill Murray.
Percebe-se assim que, na comparação, o raso filme estrelado por Elizabeth Banks fica num saldo bem negativo.

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