Das tantas versões da lenda de Robin Hood
contadas pelo cinema, a do filme de Richard Lester é a única a investir por um
caminho de fato desigual –a invés de ciscar em torno da sempre revisitada
origem do herói (coisa que até pouco tempo, um fracasso recente de bilheteria
estrelado por Taron Egerton voltou a querer fazer), ele escolhe pelo caminho
oposto contemplando, num exercício de imaginação da parte do roteirista James
Goldman (de “O Leão No Inverno” e “O Sol da Meia-Noite”), como seria o famoso
fora-da-lei em seu crepúsculo.
Personificado pela fleuma madura e sempre
impecável de Sean Connery, encontramos Robin ao lado de seu filme companheiro
Little John (o ótimo Nicol Williamson), ambos servindo o Rei Ricardo Coração de
Leão (Richard Harris) na cada vez mais desesperançada iniciativa das Cruzadas
Santas.
Robin chegou num ponto em que seu
descontentamento com a índole corrupta do rei o põe em sérios apuros –que só
não se converte numa execução sumária porque o próprio rei falece antes,
fulminado por um banal ferimento com flecha.
Robin e Little John assim retornam para a
Inglaterra onde o reinado emergente do irmão de Ricardo, o Rei John (Ian Holm),
transformou em renegados todos os indivíduos do clero devido ao rompimento
político com o Vaticano.
Ele reencontra Marian (Audrey Hepburn, ainda
encantadora) na função de líder de uma abadia, tendo abraçado os princípios
religiosos depois da partida de Robin. É assim que, já de chegada, Robin tem de
salvá-la, quando o próprio Xerife de Nothingham (Robert Shaw) aparece para
prende-la cumprindo uma designação real.
Refugiados na Floresta de Sherwood, Robin,
Marian e Little John reencontram, ainda escondidos por lá, alguns companheiros
do passado, como Frei Tuck (Ronnie Barker) e Will (Denholm Elliot, de “Os Caçadores da Arca Perdida” e “Indiana Jones e A Última Cruzada”).
Ao mesmo tempo, esse regresso do herói reaviva
a chama de esperança nos camponeses oprimidos que se juntam novamente a ele,
resgatando a mesma circunstância de outrora, enquanto o próprio Robin se
descobre embriagado pelo retorno do passado como ele recordava. No entanto,
como a narrativa trata de lembrar paulatinamente –inclusive nos monólogos
melancólicos de Marian –o tempo passou, e os heróis envelheceram.
Charmoso como filme de aventura, e executado
tão somente com essa modesta pretensão pelo diretor Richard Lester (que
substituiu Richard Donner em “Superman 2” e ainda realizou “Os Três
Mosqueteiros” e “A Vingança de Milady”), “Robin & Marian” não se aprofunda
tanto quanto poderia se imaginar nas agonias da meia-idade a se abater sobre
homens lembrados por seu vigor, optando por um registro gracioso (e envolvente)
na maior parte do tempo.
Seu momento mais
contundente (e talvez ousado) é o desfecho que escolhe para seus heróis, longe
de um maniqueísmo previsível do bem contra o mal, mas sim impondo uma amarga
realidade, na qual a abnegação do momento pode soar um bocado implausível para
os expectadores jovens de hoje.
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