Empenhado, o diretor e roteirista Julius Avery
capricha no conto de traição e criminalidade do qual seu filme se ocupa: As
caracterizações de seus atores, com suas feições de periculosidade e cara
fechada, são esmeradas –mais do que suas atuações propriamente ditas, e seu
trabalho tem aquele despojado refinamento do qual muitas vezes os filmes
norte-americanos se beneficiam, mesmo aqueles de qualidade mais discutível.
Com uma apropriada câmera na mão a registrar o
realismo de um cárcere sujo e brutal, acompanhamos a chegada do jovem J.R.
(Brenton Thwaites, de “Piratas do Caribe-A Vingança de Salazar”) na prisão e
suas tentativas em adaptar-se à perigosa rotina.
Entre perigos que espreitam a todo momento na
forma de prisioneiros abusadores, ele conquista pouco a pouco a afeição do
criminoso australiano Brendan Lynch (Ewan McGregor, sempre muito bom) que o
protege até que sua pena de três meses se conclua –Brendan pegou uma pena de
vinte anos!
Ao sair, portanto, J.R. tem uma dívida a pagar.
E o processo por meio do qual irá quitá-la não tarda a se iniciar: J.R.
participa da audaciosa fuga que consegue tirar Brendan de dentro da prisão e já
se encontra incluso nos planos que ele tem, de assaltar com tremendo
profissionalismo uma reserva de ouro em Melbourne.
No percurso desses acontecimentos, é possível
flagrar a habilidade do diretor Julius Avery quanto ele consegue tornar
palatável até mesmo uma sequência de ares inverossímeis como a fuga da prisão
de segurança máxima –cheia de lances improváveis, mas encenada com austeridade
o suficiente para convencer o expectador de sua viabilidade.
Avery lança mão da referência cinematográfica
suprema para esse tipo de filme: O cinema suburbano, atento aos códigos de
condutas criminais engendrado por Michael Mann. Seguindo essa cartilha, o
diretor Avery estabelece as regras desse submundo ao qual J.R. aterriza meio
inadvertidamente conduzido por Brendan, uma figura paterna na mesma proporção
em que é também um agente corruptor e um rival –e nessa dinâmica há algo que
remete à disputa entre pupilo e mentor observada no clássico “Rio Vermelho”.
E dentre todas as regras há uma que fica mais
claro ao expectador que J.R. haverá de quebrar: A de que não se deve desejar a
bela e desejável Tasha (a maravilhosa Alicia Vikander), garota imigrante que é
uma espécie de bibelo-fetiche do contratante para o tal assalto, o ardiloso Sam
(Jacek Koman).
Embora ostente Tasha como sendo sua amante, Sam
não obteve nada com ela –e diante dessa descoberta, J.R. não resiste a sua
atração correspondida, e estão assim estabelecidos os elementos que configuram
o conflito.
Esses vínculos de frágil
confiabilidade que conectam os personagens vão junto com eles na execução do
tão elaborado assalto e é claro que contratempos, traições e reviravoltas irão
se suceder, algumas não muito bem construídas pelo roteiro, soando
desnecessárias e exageradas, e outras urgidas com a precisão de um apaixonado
pelo gênero, com destaque para a esperta manobra final que justifica a ênfase
na predisposição para jogos de xadrez observada no protagonista e dá um desenlace
satisfatório à complexa e fascinante relação de ambiguidade entre J.R. e
Brendan (valorizada também graças aos bons atores que os interpretam)
permitindo ao filme um desfecho sólido e razoável.
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