Por meio das cenas que abrem o trabalho da
diretora e também roteirista Claudia Jouvin somos testemunhas das
circunstâncias miseráveis e comiserativas da vida de Arnaldo (o sempre ótimo
Vladimir Brichta). Casado com uma mulher que já nem tem mais certeza se um dia
amou (Ingrid Guimarães, provando versatilidade num papel dramático) e amargando
um emprego num escritório que exala mediocridade, Arnaldo vive uma deprimente
rotina de classe média baixa cujas agruras ele só tem o melhor amigo Mascarenhas
(Otávio Muller) para dividir.
Não é, portanto, à toa que ele se agarra à
primeira oportunidade de mudar, ainda que de maneira bem mirabolante: ele houve
à boca pequena, sussurrado no banheiro, uma história sobre uma clínica que
produz cópias das outras pessoas (!). Uma duplicata para colocar em seu lugar e
viver sua vida insatisfatória, enquanto o original aprovieta para cair no mundo
e recomeçar.
Talvez inspirado por ter conhecido a
encantadora e impulsiva Josie (Mariana Ximenes, de “O Invasor”) numa visita à
um cemitério de animais (!), Arnaldo acaba encontrando a tal clínica e resolve
se submeter ao procedimento.
Na hora H, contudo, se arrepende. Ele foge de
lá correndo.
Para sua surpresa, porém, há realmente um outro
Arnaldo morando com sua esposa quando ele volta para o apartamento.
O que significa que a cópia encomendada foi
feita. Ou será ele próprio a cópia?
Num espirituoso esforço de encaixar uma
premissa fantástica e absurda dentro do contexto brasileiro e nas
circunstâncias técnicas e artísticas do cinema nacional, a diretora Claudia
Jouvin faz uma variação particular do mito do duplo (ou Dölppenganger) tão caro
à literatura de Dostoyevski ou à ácida filmografia do grande Andrzej Zulawski.
Aqui, Jouvin parece privilegiar menos os
desdobramentos da trama (sequer há muito interesse na manutenção de algum
mistério sobre quem é de fato a cópia, nem tampouco em surpresas no roteiro) e
mais o clima (a trilha sonora, de Plínio Profeta, trabalha com canções e
composições de efeito etéreo junto à narrativa).
Isso rende um filme simpático de atmosfera e
visual de fábula, ocasionalmente esmagado por um estranho senso de fatalismo
que torna pedante algumas de suas soluções.
Entretanto, no cômputo
geral, é aquela produção na qual os acertos compensam largamente os erros.
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