Um grande filme investigativo agraciado com uma
belíssima interpretação de Jeremy Renner, este “Kill The Messenger”
–genericamente traduzido como “O Mensageiro” em português –une as orientações
cinematográficas que definem grandes obras do sub-gênero como o clássico “Todos
Os Homens do Presidente” e o premiado “Spotlight-Segredos Revelados” a um
senso de denúncia que por vezes acaba rondando circunstâncias bem reais, mas
que por seu teor mirabolante e absurdo soam inacreditáveis. Nesse sentido, o
trabalho do diretor Michael Cuesta se aproxima da comédia de aventura “Feito Na América”, com Tom Cruise, todavia, se aquele era um trabalho que descontraía o
expectador fazendo-o divertir-se com as guinadas tortuosas de sua premissa,
também baseada num fato real, aqui, a condução metódica e austera de Cuesta
impõe uma densa e adulta seriedade.
Está em pauta a lógica jornalística que foi
torcida diante das circunstâncias.
Jeremy Renner vive Gary Webb, repórter do
jornal regional San Jose Mercury News. Na busca por uma história bombástica e
na proximidade intuitiva com alguns traficantes, ele acaba conhecendo Coral
Baca (a absolutamente deliciosa Paz Vega), esposa de um traficante condenado
disposta a entregar a Webb um documento que veio parar por acidente em suas
mãos: Um protocolo rasurado e confidencial sobre Danilo Blandon (Yul Vazquez),
um agente da CIA –talvez, um informante, talvez, um infiltrado –que tinha
conexões com traficantes em todo solo americano.
Até aí nada demais. Contudo, ao aprofundar suas
investigações, Webb descobre que Danilo Blandon, na qualidade de agente duplo a
serviço da CIA, era mais que um mero espião entre os traficantes: Ele era um
dos maiores e mais expressivos fornecedores de drogas dos EUA!
Tudo leva à constatação, mais tarde corroborada
por outras fontes de Webb, de que o governo dos EUA contribuiu para a
circulação de drogas ilegais em certos guetos americanos desde que o dinheiro
ilicitamente obtido por esse tráfico financiasse uma guerrilha destinada a
provocar uma revolução na Nicarágua, ditando os rumos políticos daquele país.
Sem intimidar-se com as advertências que as
fontes encontradas lhe dão (ao mesmo tempo que confirmam, extraoficialmente
toda essa verdade), Webb segue em frente e escreve uma matéria que coloca o
pequeno San Jose Mercury News no radar de gigantes da mídia jornalística como o
Washington Post e outros.
Contudo, os grandes jornais –e, portanto, os
jornalistas profissionais neles inseridos –têm ligações com a CIA e, por conta
delas, sua postura é defensiva para com os orgãos do governo: Na sequência às
revelações, eles procuram invalidar a descoberta de Webb e, aos poucos, em
função das próprias convicções, passam a atacá-lo e desacreditá-lo.
A pressão é tamanha que se estende até os
profissionais que trabalhavam com Webb, sua editora Anna Simmons (Mary
Elizabeth Winstead) e o dono do jornal Jerry Ceppos (Oliver Platt); ambos
intimidados e pressionados pela postura antagônica dos veículos de mídia
maiores acabam por negligenciar o empenho de Webb em perseguir a verdade,
afastando-o da execução do jornalismo.
Esta é, pois, uma trama sobre um “Davi contra
Golias” onde os desdobramentos não obedecem sobremaneira as expectativas do
público, tão acostumado a ver a verdade prevalecer, sobretudo, em âmbitos
americanos nos quais essa máxima é tão defendida.
Mais do que expor uma
verdade desconcertante acerca de atividades obscuras e duvidosas do governo
americano, o filme coloca o íntegro e transparente Gary Webb na angustiante
posição de um mártir terminando por apontar os lapsos morais quando outros
profissionais da área do jornalismo priorizam fatores secundários (e de
interesse pessoal) em detrimento da verdade.
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