Recém-chegado a Los Angeles, o jornalista Nick
Eliot (Cary Elwes, de “Tempo de Glória”) precisa, antes de mais nada, arrumar
um lugar para morar. Termina encontrando o que parece a residência ideal: Uma
aconchegante moradia anexada ao terreno da mansão de um casal milionário.
Os indícios da encrenca que o aguarda, contudo,
já se apresentam em sua chegada: Ele quase atropela uma jovem que surge de
patins em frente ao seu carro e lhe devolve um olhar que mescla descaso e
provocação –ela é Adrian, vivida pela jovem Alicia Silverstone (uma das
atrizes-sensação da década de 1990), e filha do seu casal inquilino (formado
por Kurtwood Smith, de “Robocop”, e Gwynyth Walsh, da série “O Homem do Castelo
Alto”).
Conduzido com a mesma parcimônia que define os
expedientes do suspense doméstico assim estabelecidos por Alfred Hitchcock, o
diretor e roteirista Alan Shapiro relata a rotina de Nick com calma, plantando
sutilmente os elementos que intensificarão a tensão mais tarde –Nick assume seu
cargo de jornalista na nova editora já sob certa pressão, e termina caindo nas
graças do exigente chefe (Matthew Walker) graças a uma matéria redigida por
Adrian –que aparentemente é uma pequena gênio do alto de seus catorze anos de
idade (!).
Assim, Nick se torna alvo do interesse da
garota, cujo assédio ao rapaz com o dobro da idade dela vai aumentando cada vez
mais, ganhando ares de obsessão, tornando-se violento quando ele demonstra
interesse pela colega de profissão Amy (Jennifer Rubin) e lançando mão de estratagemas
calculados e cruéis que, em seu indefectível planejamento, jamais seriam
plausíveis vindos de uma adolescente.
O filme de Shapiro parte assim de um conceito
um tanto simples, onde a ninfeta ao estilo “Lolita” se converte numa femme
fatale –reza a lenda que o próprio Shapiro teve uma desagradável experiência
nesse sentido (embora certamente de repercussões menos extremas), tanto que o
nome original da personagem, Daria, teve de ser alterado quando “Paixão Sem
Limites” –ou “The Crush” –foi exibido na TV; as cópias em Laser Disc e VHS,
diferente do DVD, ainda conservam o nome original da personagem antes dele ser
modificado numa dublagem para Adrian, por conta de um processo da garota da
vida real (!).
Entretanto, mesmo levados
em contas esses precedentes, “Paixão Sem Limites” ainda é um filme que não
soube envelhecer: Hitchcock acrescentava relevância psicológica a cada trabalho
seu e compunha cenas extremamente marcantes e refinadas; Shapiro, embora nítido
entusiasta do mestre do suspense, compõe, quando muito, um filme de ares
televisivos, destituído de uma cena que se destaque em meio ao andamento
enfadonho, prejudicado pelo protagonismo nada empolgante de Cary Elwes; seu
maior atrativo, por sinal, a presença de Alicia Silverstone –cujo apelo sensual
serviu aos propósitos de alguns filmes (e clipes do Aerosmith) naquela época
–pouco oferece no cômputo geral além de suas caras e bocas; ela é belíssima,
sem dúvida, mas longe de ser, aqui, talentosa.
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