segunda-feira, 17 de agosto de 2020

A Honra do Poderoso Prizzi

Quando se fala em filme sobre máfia todo mundo lembra de “O Poderoso Chefão”, mas o público em geral desconhece uma série de obras-primas que coexistem nessa categoria ao lado da trilogia de Francis Ford Coppola.
“A Honra do Poderoso Prizzi” é um desses exemplares não tão aclamados, embora consiga destacar-se dentre os demais pela habilidade com que o diretor John Huston subverte algumas características de gênero para introduzir humor negro.
Sua realização esbanja uma atmosfera cômica que, nas mãos de outro diretor, ou encenada por outro elenco poderia render algo inadequado.
Não aqui.
Tarimbado desde a década de 1930 –gênese dos paradigmas do gênero que executa –era de se supor que não sairia nada de ruim quando o veterano John Huston enveredasse pelo terreno dos filmes de máfia, no qual o bem mais jovem Coppola obteve tão larga aprovação: E certamente, exige admirável reconhecimento a obra que este grande mestre terminou concebendo.
Sua magnífica contribuição ao gênero vem abrilhantada por um senso de humor primoroso e pontual, carregado de comentários irônicos acerca das atividades que rondam a vida de um mafioso (num de seus momentos mais inspirados, podemos ver, durante a cena da festa de despedida, o retrato de Marlon Brando, como Don Vito Corleone!), para tanto, não lhe faltam qualidades notáveis no elenco escolhido para essa personificação: Um Jack Nicholson absurdamente hilário, uma Kathleen Turner explosiva, uma Anjelica Huston –filha do diretor, e ganhadora do Oscar 1986 de Melhor Atriz Coadjuvante –austera e dentro do tom.
Rapaz apadrinhado desde muito jovem pelo mafioso Don Corrado Prizzi (William Hickey, de “O Nome da Rosa” e “Vítimas de Uma Paixão”), o protagonista Charley Partanna (Nicholson) vive um ligeiro dilema quando se envolve e resolve se casar com a sensual Irene Walker (Turner). Ela moradora de Los Angeles, ele, em Nova York –as idas e vindas hilárias entre a Costa Leste e Oeste ocasionadas pelo romance entre os dois e pelas próprias circunstâncias da história que eles deflagram são uma das divertidas e espirituosas observações lançadas pelo diretor Huston.
Contudo, Irene é uma requisitada assassina de aluguel –atividade que Partanna desconhece por completo –e esse matrimônio não apenas desagrada a inquieta sobrinha de Don Corrado, Maerose Prizzi (Anjelica), outrora noiva de Partanna que largou-o para fugir pro México, como também deixa alarmado todo o Clã Prizzi, o quê arruma para o pobre Partanna consideráveis encrencas com a força policial, com gangsteres rivais e com membros da própria ‘famiglia’.
Escrito com primazia (por Janet Roach, ao lado de Richard Condon, autor do livro no qual se baseia), dirigido com excelência e interpretado com perfeição, “A Honra do Poderoso Prizzi” é uma pérola que, do jeito como está, leva o expectador a transitar pelas mais diferentes sensações: Ri nervoso de suas piadas quase sempre envolvendo truculência e trágicas ironias; deixa-se envolver pelo romance eficaz e bem conduzido a transcorrer numa improvável circunstância; e, ao fim, emociona-se com brilhantismo com que partes tão incompatíveis se encaixam num todo austero e adulto, mas não desprovido de gracejo e diversão.

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