Daniel Pearl, diretor de fotografia do
“Massacre da Serra Elétrica” original, tornou-se, a partir da década de 1980,
um renomado fotógrafo de clipes musicais. Daí ser ele o nome mais reverenciado
(mais até do que o diretor Tobe Hopper e o co-roteirista Kim Henkel, creditados
como produtores executivos) atrás das câmeras desta refilmagem de 2003,
dirigida por Marcus Nispel e produzida por Michael Bay –cuja produtora,
Platinum Dunes, se especializou em refilmar filmes de terror.
Não apenas refilmá-los, mas anabolizá-los, como
fica claro nesta produção que parte de um roteiro muito similar ao do filme
original para à ele agregar novos perigos, novas ênfases em momentos de mais
violência, e toda sorte de incrementos que a imaginação dos realizadores (não
muito prodigiosa, é preciso dizer) pôde conceber.
Curioso notar, na trajetória experimentada por
esta refilmagem que aquilo que era uma obra de pura transgressão nos anos 1970
converteu-se em entretenimento consumista para as massas nos anos 2000.
O enaltecimento ao material fonte se nota já no
começo, quando o impactante prólogo original (também ele ao som da narração de
John Larroquette) é recriado com elementos modernosos e edição de videoclip,
embora tudo ainda se passe nos anos 1970.
Logo em seguida, os mesmos personagens obtusos
de quase todo filme ‘slasher’ entram em cena: Os namoradinhos Erin (Jessica
Biel, um pitel!) e Kemper (Eric Balfour, um tanto subaproveitado); além dos
amigos Morgan (Jonathan Tucker, de “As Virgens Suicidas”), Andy
(Mike Vogel, de “Cloverfield-Monstro”) e Pepper (Erica Leerhsen, de “Magia Ao Luar”).
Todos estão vindo de uma viagem ao México
regada à maconha, passando pelas localidades longínquas e afastadas do Texas.
É por lá que encontram na estrada uma jovem
transtornada –em substituição ao personagem singular do filme de Hooper –que
lhes dá indícios de algo terrível ocorrido nas redondezas, e então se mata com
um tiro de pistola (de onde ela tirou a arma durante a cena é um mistério vindo
da cabeça abilolada dos roteiristas!).
O plot está, portanto, armado a partir do
momento em que o grupo de protagonistas têm um cadáver dentro de seu carro e
não sabem o que fazer com ele; levando-os a ficar sistematicamente atrelados às
circunstâncias que os levarão aos seus apuros.
Discussões acerca do certo a se fazer até
ocorrem –manifestadas por um roteiro que se pretende inteligente, mas se
contenta em ser objetivo, sucinto e, no fim das contas, redundante.
Os personagens falam o que se espera que falem:
Morgan, o mala-sem-alça do grupo manda às favas o politicamente correto e quer
largar o cadáver ali mesmo; Erin, a mais moralmente centrada de todos (e, por
isso mesmo, sublinhada como personagem principal) quer prestar contas à polícia
e dar ao cadáver um desfecho digno (completamente ignorante das abundantes
pistas do quão encrencados eles mesmos estão!).
Nesse imbróglio, eles esperam, e Kemper acaba
indo parar numa casa da região atrás de telefone –o filme retrata as
residências e ambientações texanas com um viés discutível de ‘degradação
cosmetizada’.
É assim que Kemper se torna o primeiro
personagem a cruzar com a sanha assassina do grande vilão da franquia,
Leatherface, vivido aqui pelo grandalhão Andrew Bryniarski, referenciado pela
narrativa como uma espécie de força da natureza ou algo assim...
O que se segue é previsível: Um a um, os
personagens vão sendo eliminados, não sem antes serem submetidos à torturas
sádicas e a momentos variados de tensão que fazem a diversão do bom e velho
expectador de filmes de horror, até restar somente Erin, ironicamente, a
responsável indireta por todos os seus amigos e namorado terem se enfiado
naquela arapuca!
Se há um elemento que se
sobressai à mesmice crônica que este “Massacre da Serra Elétrica” herda ao se
meter a querer refilmar uma obra que definiu do panorama do cinema de terror
contemporâneo, é o visual acachapante imposto pelo diretor Marcus Nispel ao
material: A despeito de ser uma produção de baixo-orçamento (aspecto que a
equipe técnica tenta disfarçar todo o tempo, de todas as maneiras), os filtros
de câmeras, tratamentos de luz e efeitos de imagens proporcionados pela
experiência de Nispel nessa área (e que dão uma estranha aura inapropriada ao
conjunto) fazem desta uma realização sedutora na maior parte do tempo,
contornando em grande medida a sua dramaturgia frouxa, os lapsos constantes de
lógica e de sensatez ocasionados aos personagens e a impressão de que, se era
para ser assim, porque não ficar com o formidável e audacioso filme original de
Tobe Hopper?
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