Prova do empenho dos Trapalhões em querer fazerem-se cinematograficamente relevantes, em determinado ponto de sua trajetória (1987, no caso), foi este projeto onde adaptavam ao seu próprio jeito e estilo a celebrada peça de Ariano Suassuna –já adaptada anteriormente para o cinema em 1969 por George Jonas (com Armando Bógus, Antônio Fagundes e Regina Duarte).
Dessa maneira –e orientados por uma verve um
pouco mais séria que contrasta com seu humor pueril –os Trapalhões surgiam
distribuídos em papéis pontuais da trama, como foi feito em “Os Trapalhões e O Mágico de Orós”, três anos antes com muito mais zelo na manutenção de sua
trama: Renato Aragão é, óbvio, o protagonista João Grilo, de lábia afiada e
raciocínio ligeiro para enganar os outros a sua volta; Dedé Santana (talvez, o
integrante do grupo que sempre mais dedicou-se à atuação) surge como Chicó, o
ingênuo parceiro de João Grilo em suas armações; Zacarias aparece na pele do
padeiro local, marido muquirana de uma esposa adúltera (Claudia Gimenez); por
sua vez, Mussum (aqui, num surpreendente registro austero), que evidentemente
se incumbe do papel de Jesus, tem essa participação aumentada no roteiro
através da manobra na qual, devidamente disfarçado numa identidade negra, Jesus
já acompanhava a história desde o começo, como o humilde frade a serviço do
bispo (Renato Consorte).
Tudo começa quando a mulher do padeiro,
inconsolada com o estado desenganado de seu cão de estimação, recorre aos
retirantes João Grilo e Chicó para que convençam o padre (Emmanuel Cavalcanti)
e o sacristão (Sandro Solviatti) a lhe benzer o cachorro.
Diante da inevitável resposta negativa, João
Grilo e Chicó inventam das suas: Contam que o cachorro na verdade pertence ao
temido coronel da região (Raul Cortez) e, mais tarde, quando são descobertos,
surgem com a conversa de que o dito cachorro deixou um generoso testamento que
beneficiava a Igreja.
Simplificadas a ponto de se tornarem quase
banais, as sub-tramas que compunham a graça do texto de Suassuna (que incluem
também o trecho do gato que bota dinheiro), passam quase como piadas de rodapé
pela encenação algo caótica do filme –dirigido por Roberto Farias –uma
narrativa circense que remete ao despojamento de outros filmes dos Trapalhões,
mas mostra-se pouca harmoniosa nesta realização.
O terço final é mais fiel ao texto original,
quando a cidade recebe uma invasão de cangaceiros liderados pelo impiedoso
Severino (o ótimo José Dumont), e a maioria desses personagens encontra a morte
–inclusive João Grilo e, por conta de um golpe deste, o próprio Severino!
Vão assim todos parar numa espécie de
julgamento celestial à moda de cordel, onde o Jesus negro personificado por
Mussum ouvirá as acusações da parte do Capeta (Raul Cortez, novamente) e eles
terão suas sentenças intercedidas pela benevolente Nsa. Senhora (Betty Gofman).
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