quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

A Fonte dos Desejos


 Clássico romântico indicado à três Oscar –tendo conquistado dois deles, de Fotografia e Canção Original, e perdido apenas na categoria de Melhor Filme para “Sindicato de Ladrões” –este “A Fonte dos Desejos” justifica sua premiada trajetória com um equilíbrio e uma austeridade um tanto quanto raros para um filme romântico: Nada sobra nem falta na narrativa criteriosamente elaborada pelo diretor Jean Negulesco.

Ambientado em Roma (com uma breve e deslumbrante escapada para Veneza), o filme ratifica plenamente, com magníficas e bem orquestradas tomadas panorâmicas dos pontos turísticos mais sedutores da cidade, o prêmio conquistado de Melhor Fotografia. É para lá que vai a jovem e esperançosa Maria (Maggie McNamara), trabalhar como secretária na Embaixada Norte-Americana. O apartamento e a ocupação, Maria divide com suas outras secretárias americanas que logo se tornam suas amigas: Anita (Jean Peters, de “Torrentes de Paixões”) –a quem Maria veio substituir já que está de partida para os EUA –mentiu para todos que está noiva, o que deteve as tentativas sinceras de avanço da parte do colega de trabalho Giorgio (Rossano Brazzi, de “O Candelabro Italiano”), cujo amor por ela o leva a ignorar as regras da embaixada, na qual funcionários não devem relacionar-se entre si.

E Frances (Dorothy McGuire, de “A Luz É Para Todos”), a mais veterana das três, braço-direito do recluso, excêntrico e egocêntrico escritor John Frederick Shadwell (o ótimo Clifton Webb, de “Laura”) a cerca de quinze anos, e há quinze anos apaixonada por ele, sem que este perceba –ou, pelo menos, é assim que as coisas fluem, convenientes a ele.

Atenta aos conselhos de Anita e Frances sobre como um moça solteira deve proceder naquele país distinto, embevecido de uma cultura tão diferente e embriagante, Maria resolve tentar fisgar um cobiçado solteirão, o príncipe Dino (Louis Jourdan), e para tanto, o enreda com vários subterfúgios que podem parecer deveras ingênuos, e até mesmo demasiados submissos, para os expectadores de hoje; ela faz um levantamento de tudo que ele gosta (comidas, bebidas, gostos pessoais, preferências musicais, etc...) a fim de parecer que têm um gosto em comum e são, assim, almas gêmeas.

E o filme se incumbe, assim, de acompanhar essas idas e vindas afetivas, com as três graciosas histórias de amor fluindo lado a lado, mesclando habilmente, e sem firulas, uma belíssima e bem-aproveitada ambientação, com a atmosfera afável erguida com o auxílio da trilha sonora e da marcante canção-título “Three Coins In The Fountain” –o mais curioso é que, apesar dessas ‘três moedas’ mencionadas na canção e no título do filme (as quais as protagonistas jogam logo no início, na famosa Fontana Di Trevi, imortalizada por Fellini numa cena em “A Doce Vida”, lançado seis anos depois), são na verdade apenas duas moedas que são jogadas na fonte (!).

Não muda o fato desta ser uma realização certeira em seu acabamento e muito bem calibrada na administração de seus tempos, ritmos e humores: Qualidade que o torna, até hoje, notável em meio aos exemplares do gênero.

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