segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Alma Perdida


 Assim como “O Invisível”, “Blade Trinity” e um ou outro trabalho, o terror “Alma Perdida” é exemplar em mostrar o quanto David Goyer é um roteirista habilidoso em justaposição a um medíocre diretor.

O conceito é, no mínimo, instigante: Embora haja uma visível referência à “O Exorcista”, o roteiro de Goyer passeia com uma bem construída escalada de sustos por outras inspirações do gênero –como casas mal-assombradas e afins –e elabora detalhes interessantes de sua trama, sempre com impecável consciência de ritmo e clímax. Entretanto, em cada cena pulsa uma incômoda incapacidade para extrair do elenco a emoção adequada (apesar da presença de talentos inquestionáveis como Gary Oldman e Idris Elba), e uma ocasional evidência na qual se percebe que ele não sabe o que fazer com uma produção tão endinheirada; em suma, uma direção cheia de limitações.

Acompanhamos assim a jovem Casey (Odette Yustman, de “Cloverfield-Monstro”) que descobre-se, de repente, perseguida por uma assombração: Um garotinho tenebroso –aparentemente denominado Jumby –que lhe prega sobressaltos nas mais inesperadas situações; e nesse sentido, o filme não consegue definir a sensação de medo ao expectador, exceto pelos habituais jumpscares (os sustos súbitos e abruptos que acometem a todo e qualquer terror genérico).

Investigando a fonte de seus tormentos, Casey descobre que teve um irmão gêmeo, morto enquanto ainda estava na barriga da mãe, e que, de uma certa forma, é esse espírito, imbuído de maldade, que agora quer atormentá-la, procurando um meio de passar do mundo dos mortos para os vivos.

Para o filme que é, e que vemos durante toda a duração –com seus prós e contras bem estabelecidos –“Alma Perdida” poderia perfeitamente contentar-se com essa descrição, visto que jamais consegue ir além do comum em sua capacidade de assustar, mas o roteiro de Goyer insiste em introduzir novos elementos que vão desde reminiscências históricas que remetem ao Holocausto, detalhes que mesclam assombrações relativamente católicas às crenças judaicas, e sutis indícios de um mal de proporções cósmicas.

Essa curiosa megalomania conceitual –que em nada ajuda o filme a engrandecer –leva ao ritual de exorcismo do terço final que, embora adornado de detalhes inventivos e diferenciados, nada pode fazer contra a mesmice resfolegante que predomina.

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