quarta-feira, 7 de abril de 2021

Monster Hunter


 Chamam estilo quando um diretor insiste numa mesma miríade de elementos, filme após filme, de tal forma contínua e apegada que o reconhecimento de tais elementos na narrativa evoca de imediato seu nome e suas obras.

Entretanto, o que o diretor Paul W.S. Anderson faz em “Monster Hunter” vai muito além de propriamente estilo; ele replica de forma quase indiscreta as características que pôs em prática ao longo da “Saga Resident Evil”, dando de ombros para qualquer impressão de repetição que este novo trabalho poderia suscitar (e que de fato suscita). Como “Resident Evil”, “Monster Hunter” é extraído de um jogo de videogame, onde une-se com mirabolância vertiginosa expedientes gráficos do terror (zumbis anabolizados lá; monstros gigantes aqui), e como lá essas ferramentas estão a serviço de uma direção menos interessada ao conteúdo e mais ao formado arrojado e nunca acomodado. Ah, sim, e como lá, a estrela é também Milla Jovovich.

Na cena que abre “Monster Hunter” vemos um navio do que aparenta ser um mundo alienígena, afinal, a despeito da caracterização à la “Piratas do Caribe”, tal navio singra as areias de um deserto, e não as águas de um mar (!), capitaneado por Ron Perlman (a ostentar um ridículo corte de cabelo). Despida de esclarecimento, e praticamente  sem background até quase o trecho final do filme, essa cena mostra o personagem do astro tailandês Tony Jaa ficando extraviado no deserto –o detalhe verdadeiramente relevante ao plot embora, na salada visual de tudo que ali acontece, isso seja uma das últimas coisas que o expectador vai perceber.

Finalmente, somos então apresentados à Natalie Artemis, personagem de Jovovich, uma militar norte-americana em missão em algum deserto do Oriente Médio, no nosso mundo. Embora a direção de Anderson, em seus maneirismos usuais, passe a ideia de que todo o grupo de soldados que a acompanha serão importantes ao plot –afinal, perde-se um tempo lascado com cenas de interação entre eles a mostrar sua camaradagem e os ‘laços entre soldados’ –não tarda à narrativa livrar-se de todos: Colhidos numa súbita e misteriosa tempestade de areia, o grupo da Comandante Artemis atravessa um portal que os joga em outro mundo (!), o mesmo mundo visto na estranha cena inicial.

Lá, descobrimos, monstros gigantescos espreitam em cada duna. Duas espécies são imediatamente distinguíveis: Umas aranhas gigantes que saem à noite, quando a luz solar não as ameaça (criatura que parece decalcada dos seres vistos no cult “Eclipse Mortal”); e os Diablos, seres rastejantes que se ocultam submersas nas areias, tal e qual os monstrengos do clássico B “O Ataque dos Vermes Malditos”.

Tendo todos os soldados sob seu comando exterminados, Artemis tem de unir-se ao esquisito caçador, um misto de guerreiro pós-apocalíptico e indígena extra-terrestre (e personagem deixado à deriva no prólogo) para conseguirem sobreviver.

Sem qualquer preocupação em ater-se à trama para além do fato de reordenar os mesmos conceitos do videogame (revelando até mais fidelidade aqui do que demonstrou em “Resident Evil”), o diretor Anderson se satisfaz em registrar um situação de corre-corre e sobrevivência a envolver apenas esses dois personagens. Algum fio de história começa a ser esboçado já nos quarenta minutos finais, quando o núcleo de personagens (mal) introduzido na cena inicial (incluindo os personagens de Ron Perlman e até da brasileira Nanda Costa) reaparece, contando à Artemis sua derradeira missão contra um dragão que representa o maior desafio naquele mundo apinhado de monstros.

Quando a “Saga Resident Evil” chegou ao fim com o lançamento cheio de pompa e circunstância de “Resident Evil-Capítulo Final” imaginava-se que os envolvidos seguiriam em frente: Milla Jovovich experimentaria outros desafios como atriz, enquanto o diretor Anderson (que, à propósito, é também marido dela) testaria sua capacidade em novos projetos. “Monster Hunter” é um indício de que, se “Resident Evil” chegou ao fim, dificilmente isso foi por iniciativa da atriz e do diretor: Tão similar ele é, em sua proposta, seu visual e seu resultado técnico como um todo, que a semelhança chega às raias do constrangedor, seja em suas qualidades como em seus defeitos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário