segunda-feira, 12 de julho de 2021

Resgate


 Os Irmãos Russo começaram a colher os louros por terem realizado quatro dos melhores filmes da Marvel Studios –“CapitãoAmérica-O Soldado Invernal”, “Capitão América-Guerra Civil”, “Vingadores-Guerra Infinita” e “Vingadores-Ultimato” –quando tiveram aval para fazer esta outra adaptação de uma história em quadrinhos de sua própria co-autoria financiada pela Netflix, desta vez, uma trama sem super-heróis ou histórias fantasiosas e mirabolantes. Aqui eles entram como produtores e argumentistas, deixando a direção a cargo de Sam Hargrave cuja habilidade nas cenas de ação salta aos olhos.

John Wick” fez escola. E é numa vibração muito parecida que este filme urgente e bem realizado se desenvolve –num personagem com bastante similaridade, Chris Hemsworth surge um pouco mais truculento e menos estiloso do que Keanu Reeves, no entanto, igualmente carismático e supino no papel de Tyler, um protagonista sobre o qual pouco sabemos exceto que trata-se de um ‘extrator’: Alguém capaz de tirar uma pessoa sequestrada dos lugares mais inexpugnáveis.

Isso o torna o homem perfeito para encarar a missão de tirar o jovem Ovi Mahajan (Rudhraksh Jaiswal) de Dhaka, localizada em Bangladesh. Filho de um líder do tráfico de drogas, Ovi foi sequestrado por Amir Asif (Priyanshu Painyuli), gangster ávido por deixar o segundo lugar que ocupa como barão do crime e ascender ao topo. O garoto está confinado em algum lugar das intermináveis favelas da cidade que Amir Asif controla como se fosse seu jardim, e é de lá que Tyler precisa tirá-lo. Antes mesmo da missão ser posta em prática já sabemos de antemão que ela tem chances mínimas de ser bem-sucedida: Se por um lado os sequestradores dominam toda a cidade e caçam o extrator e seu protegido pelos mais improváveis esconderijos, por outro, o próprio contratante do protagonista (Randeep Hooda) já faz planos para traí-lo: Ele não dispõe do dinheiro para pagar a alta quantia que Tyler pede por seus serviços, assim, muito mais barato para ele (e seguro para sua família) é tentar mantar Tyler no instante em que tiver concluído sua incumbência –a entrega do garoto.

Entretanto, este filme leva ao extremo a máxima de que nada, absolutamente nada, sai como o planejado: De perseguições motorizadas em plenas ruas de favela –com direito a um dos planos-sequências mais brilhantes dos últimos anos –até tiroteios a céu aberto e confrontos físicos para além da mais vigorosa resistência humana, a invencibilidade do protagonista, bem como sua prodigiosa experiência é colocada à prova.

“Resgate” é a epítone dos filmes de ação como eles hoje são considerados: Construções narrativas, perfomáticas e técnicas em torno de um protagonista invencível amparadas, quase sempre no carisma de seu astro, na habilidade de seu diretor, no desempenho físico de seus dublês, e no realismo flagrante de seus efeitos visuais. Os realizadores dessa nova safra ainda têm o trunfo de encontrar, nas brechas eventuais dessas premissas, concebidas para ser puro frenesi em detrimento de trama e prosa, instantes onde depositam elementos que agregam algo a uma certa dramaturgia assim sugerida, ou até a uma mitologia em gestação –sim, porque apesar do apoteótico desfecho onde não sobra pedra sobre pedra, “Resgate” sabe (e quer) se encerrar deixando a plateia salivando por mais.

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