sexta-feira, 13 de agosto de 2021

A Última Fortaleza


 Outrora um crítico de cinema, Rob Lurie estreou na direção com dois trabalhos indicativos de sua imensa atenção para com as orientações a definir uma narrativa. Se em “A Conspiração”, seu primeiro filme, as engrenagens denunciavam sua compreensão das convulsões do drama em conflito constante com as motivações –e ele soube empregar isso numa trama de incisivas observações políticas –em sua segunda empreitada, este “A Última Fortaleza”, sua habilidade foi usada na busca por uma expressão ainda mais pulsante e vigorosa de cinema. Uma conjugação brutal e masculina de suspense e ação.

Aqui, tudo se passa dentro de uma penitenciária militar –e a introdução de seu protagonista se dá homenageando, de cara, o que o diretor Lurie não nega ser o melhor filme de cadeia do cinema, o primordial “Um Sonho de Liberdade”: Na cena em questão, um ônibus chega à prisão (o cenário predominante de toda a trama) trazendo seu personagem principal, e a câmera acompanha sua chegada num arrojado ângulo em travelling. Se em “Um Sonho de Liberdade” essa sequência notável serve de senha para todo o filme fascinante que virá dali para frente, aqui, em “A Última Fortaleza” –realizada com um pouco menos de inspiração –a mesma sequência serve para qualificar e justificar a cinematografia que Rob Lurie usará no restante da produção, na qual o registro empolgante e visceral da ação terá por objetivo impedir que o cenário restritivo do filme engesse seu ritmo.

Interpretado pelo veterano Robert Redford (que, vez ou outra, consegue surpreender em algum filme), o Tenente-General Eugene Irwin chega à Prisão Estadual do Tennessee sob a sombra de sua fama: Ele foi um oficial do exército americano de tal forma lendário e condecorado que desfruta de admiração até mesmo da parte do diretor da penitenciária onde vai parar, o Coronel Winter (James Gandolfini).

Entretanto, Winter é instável, irascível e, na opinião de Irwin, um comandante relapso –o choque entre esses dois antagonistas é inevitável e, na narrativa cheia de urgência e tensão da qual o diretor Lurie se esbalda, sua intensidade vai num crescendo insuportável de sentenças e punições.

O diretor da prisão tortura seu novo encarcerado na mesma medida em que sua liderança entre os detentos vai aumentando. Os prisioneiros –todos soldados que cometeram alguma infração no código militar, como o próprio Irwin –estão proibidos de se portar como os militares que outrora foram; não podem, por exemplo, prestar continências.

A partir daí, e da intenção de todos em manter sua dignidade, esse crescendo de tensão entre os objetivos conflitantes dos guardas de Winter (conter a carceragem) e os prisioneiros liderados por Irwin (assumir o controle da prisão), o filme de Lurie caminha de forma implacável para a espetacular sequência de rebelião que ocupa  seu terço final.

Embora vez ou outra “A Última Fortaleza” caia na armadilha banal de tornar-se um filme corriqueiro de ação (a sua construção do suspense sugere e promete a chegada de cenas melhores do que aquelas que termina entregando) , ele assim consegue se fazer memorável na maior parte do tempo –sempre quando deposita as esperanças de sua narrativa nos ombros confiáveis de seus dois atores principais, Redford e Gandolfini, que constroem um belo duelo de tensões e personalidades.

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