Embora seu traço seja de uma característica mais rudimentar que o de realizações tecnicamente primorosas como aquelas concebidas pelo Studio Ghibli, este trabalho do animador Kyohei Ishiguro, produzido pela Netflix traz em profusão aquela sensibilidade que tanto diferencia as animações japonesas das animações do resto do mundo.
Sua trama versa sobre questões amorosas cuja
vulnerabilidade e fragilidade humana de seus personagens frequentemente são
incapazes de superar. Seus protagonistas são jovens de personalidades
construídas para serem quase diametralmente opostas: Em princípio, o jovem apelidado
Cerejinha, rapaz escritor que compõem poemas haiki e trabalha com idosos numa
instituição de um shopping. Há também, a garota chamada de Sorrisinho, em parte
devido aos dentes proeminentes que ela tem –como a Mônica de Mauricio de Souza,
uma homenagem, quem sabe –e que a levam a usar uma máscara (daquelas que,
nesses tempos de pandemia, se tornaram muito comuns). Ainda assim, Sorrisinho é
extrovertida e tem até um canal de videos onde recebe muitas curtidas.
Se Sorrisinho esconde o próprio rosto o tempo
todo; Cerejinha usa fones –que o distanciam das outras pessoas, impedindo-o de
compartilhar com elas a mesma cacofonia.
Sorrisinho olha para cima todo o tempo, sempre
pronta a se entusiasmar com qualquer coisa; Cerejinha anda sempre cabisbaixo,
incapaz de lidar com sua timidez avassaladora. Essas duas almas tão díspares
são aquelas que a premissa se propõe a reunir: Logo no início, após uma
trombada, eles trocam sem querer os celulares e, durante esse curto tempo,
compartilham as idiossincrasias e as essências de cada um. A partir de então,
uma sincronia improvável se estabelece: Eles passam a se identificar nos
lugares em que se encontram e, de uma forma um tanto hesitante (e, por isso
mesmo, encantadora) começam a se aproximar.
A trama que os une acaba sendo a que envolve um
dos idosos cuidados por Cerejinha. Já sem memórias, ele perambula em busca de
um LP perdido que, segundo ele, poderia lhe restaurar as lembranças. Ao longo
de suas investigações, Cerejinha e Sorrisinho descobrem que a cantora do dito
LP foi a esposa do idoso, e que ela tinha dentes proeminentes como a própria
Sorrisinho.
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