segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Amor & Monstros


 Alguns realizadores mais hábeis partem do princípio de que, nos paradigmas de gênero abordados, algumas obras  já trazem elementos tão reconhecíveis que muitos tópicos inerentes à suas premissas já não necessitam de elaboração. “Amor & Monstros”, por exemplo, dirigido por Michael Matthews, é visivelmente realizado por essa nova geração de cineastas, os quais já nasceram e cresceram com tamanho acesso à informação, que suas criações são quase cúmplices na maneira conceitualmente criativa com que se enraízam na categoria à qual almejam pertencer –e essa propensão a antecipar o óbvio se reflete também na nova geração de expectadores!

Com efeito, “Amor & Monstros” é todo referencial na forma com que alude à “Um Lugar Silencioso”, “Eu Sou A Lenda” e afins do gênero distopia pós-apocalíptica, do qual os artesão têm tantos exemplos para explorar, referenciar ou revisar. Acaba sendo, pois, curioso o fato de que, apesar de tudo, o coração de sua trama esteja mesmo no romance.

O jovem e medroso Joel (Dylan O’Brien, de “Maze Runner”) se ressente por ser o único solteiro no abrigo subterrâneo onde passou os últimos sete anos (!). Contudo, a chance de rever seu grande amor perdido surge numa mensagem de rádio: A bela Aimeé (Jessica Henwick, de “Godzilla Vs Kong”) finalmente entrou em contato e conta que está em um abrigo a, aproximadamente, sete dias de viagem.

Contra todas as recomendações, Joel decide empreender esse trajeto tendo, no percurso, que enfrentar toda a sorte de monstruosidades que infestaram o mundo; na realidade, criaturas como aranhas, baratas, sapos e lagartos que ganharam proporções agigantadas graças aos efeitos dos fragmentos de um meteoro que caíram na Terra.

Assim, o filme de Michael Matthews é, portanto, uma história de aprendizado e auto-descoberta: Ao longo de sua trajetória, Joel descobre a coragem que julgava não ter, inspirado por pontuais aparições que lhe oferecem importantes lições –em especial, a impagável dupla formada pelo personagem de Michael Rooker e pela garotinha Ariana Greenblatt, e o companheiro Boy, um cão inteligente e cheio de personalidade (e um dos mais sensacionais personagens do filme).

No andamento gracioso de sua narrativa, no tratamento nunca displicente conferido às nuances de sua história (onde o romance tem rumos imprevistos e o terror, com ares de comédia, se expressa de maneiras inusitadas), no carinho genuíno dedicado aos personagens –preciosismo que vai do bom elenco até o espirituoso roteiro escrito por Matthew Robinson e Brian Duffield –e na inventividade bastante singular de seus efeitos visuais (nos quais os monstros ganham um dinamismo e uma personalidade carregados de propriedade e inteligência) “Amor & Monstros” exercita, felizmente, uma característica até bastante incomum nos blockbusters de hoje em dia: A capacidade de subverter as expectativas do público e surpreendê-lo.

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