Antes da impressão um tanto razoável de que o diretor Scott Derikson estava a adentrar território sagrado refilmando o clássico da ficção científica de 1951, é preciso lembrar que o filme original, dirigido então por Robert Wise, já é antigo o bastante para permitir uma repaginada bastante promissora, sobretudo no que tange aos seus aspectos técnicos; elemento sempre importante no gênero da ficção científica.
E Derikson ainda faz um esforçado dever de
casa: Ele capricha no trabalho de condução e direção, ciente da oportunidade
preciosa que ganhara (após o surpreendente sucesso de seu “O Exorcismo de Emily
Rose”), e seu roteiro, para além da trama de simplicidade alegórica
anti-belicista que definia o original, acrescenta elementos que se fazem
pertinentes, especialmente na primeira parte, em que seu fôlego narrativo ainda
se mostra ávido.
As coisas já começam interessantes no prólogo,
a mostrar um alpinista (Keanu Reeves) tendo um contato imediato com um ser de
outro mundo numa longínqua montanha gélida: Eis, portanto, a origem, por assim
dizer, do corpo terreno do alienígena Klaatu.
Corta então para a atualidade, para a
personagem da belíssima Jennifer Connelly, Dra. Benson, recrutada em seu
próprio lar, na calada da noite e em circunstâncias nebulosas, para integrar um
time de especialistas numa operação sem precedentes: Um objeto voador não
identificado está vindo do espaço com rota fixada em Londres. E os indícios
mais recentes, de desacelaração e manobra aérea, indicam que não é um meteoro
ou um asteróide qualquer e sim uma nave tripulada.
É curioso como filmes envolvendo
extraterrestres têm, na primeira parte de sua premissa, os momentos mais
sugestivos e instigantes: Observe como a mesma coisa acaba acontecendo em
“Independence Day”, do qual o filme de Derikson acaba, invariavelmente, pegando
alguns elementos emprestados –a atmosfera iminentes de fim do mundo, o retrato
algo clichê da relação cientistas/militares, a postura sempre relapsa das
autoridades (representada aqui por uma pouco aproveitada Kathy Bates) e,
certamente, a confiança desmesurada depositada nos efeitos visuais de ponta.
É logo em seguida, contudo, que o novo “O Dia
Em Que A Terra Parou” mostra um de seus maiores trunfos: Quando, já na
iminência do contato entre os humanos perplexos e os alienígenas visitantes, o
ser do espaço se revela numa familiar aparência humana, interpretado assim por
Keanu Reeves –sempre um bom ator que, pelo perfil camaleônico de toda sua
filmografia e pela postura algo questionadora com que sempre guiou sua carreira,
acaba caindo como uma luva no papel do alienígena Klaatu!
Pena que não demora muito –logo depois que
Klaatu resolve fugir do confinamento onde as autoridades terrenas tentam
colocá-lo, na companhia da Dra. Benson, o único humano sensato que achou pela
frente –para o filme engatar uma marcha mais desanimadora, rumo a um sem-fim de
cenas que estiveram em quase todas as obras do gênero a tratar de invasão
alienígena nos últimos tempos: O poder incontrolável que ameaça toda a raça
humana (na forma do robô Gort, sabiamente mantido em suas características
memoráveis do filme anterior); a gradual descoberta do alienígena de que a
humanidade merece, sim, ser poupada apesar de seus erros que comprometeram o
ecossistema da Terra (o que responde pela demagógica participação de John
Cleese); e até mesmo a relação um tanto forçada (certamente o aspecto mais
enfadonho do filme) entre o alienígena e o garotinho, filho adotivo da Dra.
Benson, vivido sem a menor inspiração por Jaden Smith, filho do próprio Will
Smith.
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