Em seus primeiros filmes, os realizadores Beto Brant (diretor), Renato Ciasca (co-diretor) e Marçal Aquino (roteirista) tinham a seu favor uma exuberância narrativa que remetia a uma nova geração de contadores de história chegando com fôlego renovado ao panorama do cinema nacional, definido pelas diretrizes –algumas até discutíveis –da Retomada.
Passados os primeiros e efervescentes
trabalhos, eles se deram ao luxo de relaxar e ostentar uma certa sensibilidade.
Em “Cão Sem Dono”, de 2006, essa faceta até então improvável começa a se
expressar.
É uma trama construída em torno de informações
inconclusas e de possibilidades, elementos que incitam ao intimismo. Ciro
(Júlio Andrade) é um jovem em busca de algum rumo na vida.
Abraça sua sensação de deslocamento e a sente
com um ineditismo que ignora o fato de que muitos jovens da sua idade passam
pelo mesmo.
Os dias e noites em seu apartamento são
definidos por angústia existencial. Sabe-se lá como, um indivíduo tão pleno de
insatisfação como esse atrai para si uma mulher maravilhosa: Marcela (Tainá
Muller), que tenta ser sua companheira nessa estranha trajetória de busca
sôfrega por identidade.
Na história de Ciro, Brant e Ciasca optam pelo clima de
foco e contribuição de seus colaboradores; cada pessoa a frente e atrás das
câmeras fornece um elemento ao filme, num encorajamento constante de improviso
que lembra, em princípio, o processo criativo de John Cassavets –e o filme que
terminamos vendo resulta desse esforço. Há trechos cheios de sinceridade –como o
visivelmente improvisado interlúdio, cheio de emoção, entre Ciro e seu pai
(Roberto Oliveira), num nostálgico passeio à praia –e todos (muitos) nos quais
as metáforas idealizadas e planejadas pelos realizadores e sua insistência em
manter muito de relevância de sua obra restrita em suas entrelinhas comprometem
o resultado final.
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