Um daqueles livros que, de tempos em tempos, caem nas graças do público leitor e viram fenômeno, “O Guardião de Memórias”, após influenciar um sem-fim de obras melodramáticas (incluindo telenovelas brasileiras!), ganhou uma adaptação pelas mãos do diretor Mick Jackson; de uma filmografia tão eclética quanto oscilante, com trabalhos como “O Guarda-Costas”, “Vulcano-A Fúria”, “L.A. Story” e “Ao Vivo de Bagdá”.
Nas mãos dele, a obra literária de Kim Edwards
ganhou uma versão audio-visual efetiva, honesta, cheia de imperfeições, mas
consciente de seu poder de agradar o
público ao qual se dirige desde que, na manutenção de seu drama, as cordas
certas fossem puxadas.
Nele, há uma palpável predisposição para evocar
os trabalhos do diretor Douglas Sirk, o mestre do melodrama norte-americano,
tais como “Imitação da Vida”, “Sublime Obsessão” e “Tudo O Que O Céu Permite”.
Na noite de 1964 em que Norah (a belíssima Gretchen Mol) dá à luz aos seus
filhos gêmeos, uma série de acontecimentos definem para sempre a vida de todos
os personagens ali envolvidos: Seu marido –que à propósito era médico
ortopedista –David (Dermot Mulroney, de “Muito Bem Acompanhada”) e a enfermeira
Caroline Gill (Emily Watson) se encontram sozinhos no pronto-socorro, fazendo com
que apenas os dois tivessem ciência de que dentre o casal de gêmeos que acabara
de nascer, Paul e Phoebe, a menina havia nascida com Síndrome de Down.
Atormentado pela lembrança da irmã deficiente que morreu aos 12 anos,
destruindo com isso a alegria de viver de sua mãe, David toma uma decisão
extrema: À revelia de Norah, que desmaiou durante o parto e não ficou sabendo
de nada, David orienta Caroline para que entregue a menina, naquela mesma
noite, à uma casa de abrigo. Entretanto, Caroline segue sua consciência que não
permite que ela deixe uma inocente criança recém-nascida num lugar precário e
terrível. Ela passa a cuidar da criança como se fosse sua mãe. Paralelamente,
David –que tem uma ligeira noção de que a filha seguiu viva e criada por Caroline
em algum lugar dos EUA –leva Norah a acreditar que a filha morreu ainda no
parto, crente que isso basta para que a esposa siga em frente.
Contudo, não é bem isso que acontece: Nos anos
que se seguem, a medida que a narrativa retrata a trajetória das duas famílias,
Caroline se envolve com um solícito caminhoneiro conforme luta arduamente pelos
direitos de Phoebe estudar em escolas de crianças normais, enquanto que David e
Norah (donos de um tempo mais considerável de tela) testemunham seu casamento
sofrer graves abalos, iniciados pelo alcoolismo dela –originado justamente do
fato de não superar a falta desesperadora da filha –seguido da negligência de
David tanto na questão matrimonial (na angústia de guardar consigo um segredo
tão atroz, ele passa a isolar-se de Norah que, carente, passa a procurar o amor
nos braços de outros homens), quanto parental (David não aceita, a medida que
Paul vai crescendo, a aptidão dele para a música, exigindo que o filho siga a
carreira médica como ele).
Por meio de uma câmera fotográfica que recebe
de presente, e na qual descobre sua verdadeira paixão, David registra as fotos
da história de sua família –esse é, pois, o “Guardião de Memórias” –e, aos
poucos, descobre o paradeiro de Caroline e Phoebe, capturando em fotos, também o
destino da própria filha.
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