Comparado com o brilhante “O Show de Truman” à época de seu lançamento no fim da década de 1990 –e, de fato, guardando algumas semelhanças em seu ponto de partida –“EDTV” acaba se afastando um pouco de seu elogiado similar pela opção, redundante e mercadológica, de abraçar o conceito de comédia romântica a partir de sua segunda metade, e nele se acomodar.
Contudo, é um trabalho bastante simpático e
fácil de se aproveitar, despido de pretensões artísticas e cinematográficas
mais pedantes que passaram a ser um dos elementos mais criticados nas obras que
o diretor Ron Howard passou a entregar na década seguinte, quando já gozava da
aclamação obtida por seu projeto posterior, “Uma Mente Brilhante”.
“EDTV” é em teoria uma sátira a moda dos reallity shows que
dominaram a televisão algum tempo depois. Todavia, qualquer pretensão de acidez
se esvai no excesso de boas intenções da narrativa –no fundo, no fundo, o que
“EDTV” quer ser mesmo é um romance.
Seu protagonista, Ed (Matthew McConaughey) é um
jovem de vinte e poucos anos que topou uma idéia maluca: ser filmado 24 horas
por dia em sua rotina, seu relacionamento com a família e seus encontros com os
amigos.
Por algum tempo, os tubarões da rede televisiva
–exemplificados no personagem deliciosamente cretino do também diretor Rob
Reiner –não têm nada em mãos senão um programa onde se sucedem besteiras banais
com o protagonista cortando as unhas dos pés e jogando conversa fora com seus
amigos; sem falar das intervenções ególatras de seu irmão (Woody Harrelson,
hilário).
No entanto, antes que o breve interesse do
público se saturasse, Ed acaba por se apaixonar pela namorada (Jenna Elfman) do
próprio irmão exatamente durante o programa, o que –para azar dele e sorte da
emissora –eleva os índices de audiências e as complicações da vida do rapaz.
“EDTV” vai do retrato gracioso de um programa
improvável ao seu viés mais corrosivo, passando pelo relevo sentimental de uma
comédia romântica sem necessariamente encontrar ali a sutileza da reflexão.
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