segunda-feira, 14 de março de 2022

EDTV


 Comparado com o brilhante “O Show de Truman” à época de seu lançamento no fim da década de 1990 –e, de fato, guardando algumas semelhanças em seu ponto de partida –“EDTV” acaba se afastando um pouco de seu elogiado similar pela opção, redundante e mercadológica, de abraçar o conceito de comédia romântica a partir de sua segunda metade, e nele se acomodar.

Contudo, é um trabalho bastante simpático e fácil de se aproveitar, despido de pretensões artísticas e cinematográficas mais pedantes que passaram a ser um dos elementos mais criticados nas obras que o diretor Ron Howard passou a entregar na década seguinte, quando já gozava da aclamação obtida por seu projeto posterior, “Uma Mente Brilhante”.

EDTV” é em teoria uma sátira a moda dos reallity shows que dominaram a televisão algum tempo depois. Todavia, qualquer pretensão de acidez se esvai no excesso de boas intenções da narrativa –no fundo, no fundo, o que “EDTV” quer ser mesmo é um romance.

Seu protagonista, Ed (Matthew McConaughey) é um jovem de vinte e poucos anos que topou uma idéia maluca: ser filmado 24 horas por dia em sua rotina, seu relacionamento com a família e seus encontros com os amigos.

Por algum tempo, os tubarões da rede televisiva –exemplificados no personagem deliciosamente cretino do também diretor Rob Reiner –não têm nada em mãos senão um programa onde se sucedem besteiras banais com o protagonista cortando as unhas dos pés e jogando conversa fora com seus amigos; sem falar das intervenções ególatras de seu irmão (Woody Harrelson, hilário).

No entanto, antes que o breve interesse do público se saturasse, Ed acaba por se apaixonar pela namorada (Jenna Elfman) do próprio irmão exatamente durante o programa, o que –para azar dele e sorte da emissora –eleva os índices de audiências e as complicações da vida do rapaz.

“EDTV” vai do retrato gracioso de um programa improvável ao seu viés mais corrosivo, passando pelo relevo sentimental de uma comédia romântica sem necessariamente encontrar ali a sutileza da reflexão.

Apesar do desperdício da oportunidade, não se pode condená-lo por isso: Que mal há num filme querer tão somente agradar seu público?

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