quarta-feira, 27 de abril de 2022

Malditas Aranhas!


 Alguns realizadores, no início da década 2000, estavam redescobrindo o fascínio pelas produções B do passado, um tanto incentivados pelas maluquices referenciais de Quentin Tarantino e Robert Rodrigues; daí que, produzido por Roland Emmerich e Dean Devlin (responsáveis por arrasa-quarteirões pirotécnicos e dispendiosos como “Independence Day” e “Godzilla”), e dirigido pelo neo-zelandês Ellory Elkayem, foi realizado com relativamente baixo orçamento e sem maiores pretensões comerciais este “Malditas Aranhas!” que, no verão de 2002, revelou-se uma grata surpresa, além de ter a honra de apresentar ao mundo uma já crescida e sedutora Scarlett Johansson, depois de vários filmes como intérprete infantil, e pouco antes de tomar o mundo e o cinema com seu encanto em “Encontros e Desencontros”.

Scarlett vive a jovem Ashley Parker, mas os protagonistas de fato são sua mãe Samantha Parker (a bela Kari Wührer, de “Anaconda”), e o destrambelhado herói da vez Chris McCormick (David Arquette, de “Pânico”).

Em retorno à cidadezinha do Arizona onde passou sua juventude, Chris reencontra sua antiga paixão, Samantha, trabalhando como a xerife local, equilibrando essa ocupação com a de mãe solteira da adolescente Ashley e do pequeno gênio Mike (Scott Terra, de “Demolidor-O Homem Sem Medo”).

Esses personagens logo se defrontam com a circunstância que centraliza o filme: Dejetos radioativos jogados nas imediações (sempre eles!) desencadeiam uma mutação nas espécimes de aranhas locais, tornando-as gigantescas. Assim, as criaturas que antes eram predadoras apenas de insetos e bichos menores passam a ter os seres humanos como caça. E na tentativa de sobrevivência que se segue da parte de toda a população, Chris e Samantha se veem como líderes involuntários dessa comunidade em crise, onde afloram, aqui e ali, todos os personagens clichês possíveis (que acabam sendo eficazes apenas porque têm o embasamento do bom humor): Os jovens prepotentes e rebeldes; a criança-prodígio que adivinha todo o plot dos monstros antes dos adultos; os políticos ricaços indiferentes ao sofrimento das vítimas; os hilários coadjuvantes suburbanos e muitos mais.

Meio “Tubarão”, meio “Aracnofobia” –não por acaso, dois filmes com o nome de Steven Spielberg (ídolo de Emmerich) em sua ficha técnica –“Malditas Aranhas!” explora desavergonhadamente todas as possibilidades gritantes, absurdas, sensuais, engraçadas e vertiginosas do cinema poeira dos anos 1970 conferindo à essa roupagem um delicioso teor referencial e uma desprendida ênfase nos efeitos visuais de última geração que, apesar de diversos tropeços aqui e acolá, valem-se dessa mesma imperfeição para impor aquela que é sua maior virtude: Um contagiante senso de humor.

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