O filme povoado de nostalgia e de referências à história do Brasil no início da década de 1970 dirigido por Cao Hamburger foi escolhido pelo Ministério da Cultura, no lugar do fenomenal “Tropa de Elite”, para representar o país na disputa pelo Oscar de melhor Filme Estrangeiro em 2006.
Isso levou uma parcela do público brasileiro a
adquirir um certo ranço por um filme que merecia muito a atenção que lhe foi
dada. Evitando comparações com a grande obra de José Padilha –até porque são
dois trabalhos completamente diferentes! –o filme de Cao Hamburger lembra
curiosamente (até no título inclusive) “O Ano Em Que Papai Saiu Em Viagem de
Negócios”, de Emir Kusturica. A premissa básica, por sinal, é muito parecida:
Pelos olhos de uma criança, testemunhamos as transformações políticas, às vezes
bem severas, experimentadas por seu país-natal em geral, e pelos personagens de
seus pais em particular.
No caso, o que conta aqui é a inconteste
sensibilidade de Cao Hamburger como diretor. Ele preenche a história do pequeno
Mauro (Michel Joelsas, de “Que Horas Ela Volta?”) com uma percepção minimalista
de cinema (a narrativa é particularmente introspectiva) evidenciando pequenos
detalhes acerca do período em que tudo se passa (abarcando o ano de 1970,
quando a Seleção Brasileira venceu a Copa do Mundo) num prodigioso trabalho de
reconstituição.
Entretanto, o que chama a atenção o tempo todo
e do qual o diretor jamais descuida é o ponto de vista subjetivo de seu pequeno
protagonista –pelos olhos de uma criança, os percalços tortuosos da luta armada
contra a ditadura (ideologia abraçada pelos pais) nunca ganham ares de
panfletagem ou de alarmismo, simplesmente porque isso pouco significa para o
inocente personagem principal. Para Mauro, o que importa é a aflição imediata
experimentada quando seus pais (Eduardo Moreira e a bela Simone Spoladore), sob
pretexto que estão ‘saindo de férias’ o largam na porta do prédio onde mora o
avô (ponta do grande Paulo Autran) em pleno Bairro do Bom Retiro em São Paulo.
O timing
não poderia ser pior: Poucas horas antes, o avô de Mauro havia falecido (!).
Quase desamparado nos dias que se seguem, Mauro acaba sendo ‘adotado’ pelo
vizinho de apartamento de seu avô, o judeu Shlomo (o magnífico Germano Haiut)
–aliás, todos os moradores do prédio e das redondezas são descendentes de
judeus. O que leva Mauro a ser mergulhado numa cultura até então completamente
diferente e desconhecida.
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