quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Fantasma 3 - O Senhor da Morte


 Em 1994, Don Coscarelli enfim lançou a terceira parte de sua “Saga Fantasma”, após seis anos de procura por investidores e por um estúdio –não mais tendo o respaldo financeiro da Universal Pictures, como no filme anterior, a equipe de produção precisou arcar com um orçamento bem mais limitado, algo que se encontra visível ao longo da obra (bem mais econômica em termos de efeitos visuais e de maquiagem) e na constante sensação de improviso que emana de diversas cenas –sobretudo aquelas, predominantes, onde vemos os personagens rumando a um destino ao qual nunca parecem chegar. No entanto, tal independência também trouxe reflexos positivos: Livre para fazer o filme que bem entendesse, Coscarelli pôde, enfim, reescalar Michael Baldwin de volta ao personagem Mike que ele havia interpretado, ainda adolescente, no primeiro “Fantasma”.

É curioso, contudo, que este seja o filme no qual Mike mais se mostra estranhamente ausente em cena, enfatizando com isso o protagonismo gradual de Reggie –que, vamos e venhamos, era merecedor disso desde o começa da franquia!

Começando na mesma cena com a qual “Fantasma 2” foi encerrado –hábito bastante peculiar de Don Coscarelli –descobrimos que Reggie (Reggie Bannister) não foi morto durante o ataque inesperado de Alchemy, subitamente revelada como uma das asseclas do Tall Man (Angus Scrimm). Na verdade, quem morreu logo na sequência foi Liz (Paula Irvine), enquanto que Mike (James Le Gros é substituído por Michael Baldwin num hábil manejo da montagem das cenas) é poupado. Esse prólogo já deixa claro a importância que Mike aparenta ter para o Tall Man, motivo pelo qual ele não deseja sequer machucá-lo –esse mistério e sua elucidação serão o mote principal deste terceiro filme.

Mike recupera-se, mas Tall Man e seus variados recursos (como os anõezinhos malignos e carnívoros, zumbis que se manifestam do nada e as famosas esferas prateadas) não deixam de perseguir ele e Reggie. Auxiliados por uma das esferas de Tall Man, estranhamente imbuída pelo espírito de Jody (Bill Thornburry, retornando ao personagem morto ao fim do primeiro filme), eles vêem a descobrir que Mike faz parte do grande plano que o Tall Man tem de devastar cidade após cidade, consumindo a carne de suas vítimas e com elas construindo um exército –algo que ele já fizera com outros mundos.

Eventualmente, o Tall Man (cujos poderes se mostram vastos, ao mesmo tempo que é revelada uma fraqueza, o frio intenso) acaba capturando Mike, o que leva Reggie a passar quase todo o restante do filme à sua procura –e aí entram as cenas onde ele (e outros mais) são mostrados indo numa direção que nunca chegam, que eu mencionei ali em cima.

Nessa busca, passando por várias cidades dizimadas pelo Tall Man, Reggie encontra outros personagens que se juntam, involuntariamente, à sua cruzada: O jovem Tim (Kevin Connors), garoto-prodígio (sabe manusear armas de fogo em tenra idade!) que parece mesclar referências de Elliot (o pequeno protagonista de “E.T. O Extraterrestre”) com o protagonista-mirim de “Esqueceram de Mim”; e a ex-militar Rocky (Gloria Lynne Henry, de “Advogado do Diabo”) garota furiosa armada com nunchakus (!), todos personagens tão caricatos quanto aqueles que já vinham surgindo ao longo da saga.

Ainda que menos impecável em seu aparato técnico –o que se reflete diretamente em seu ritmo –“Fantasma 3” é uma inteligente evocação de elementos que a “Saga Fantasma” havia deixado de lado em seu último filme. O mistério em torno da figura sempre icônica do Tall Man ganha novos e imprevistos aprofundamentos (além de uma conexão mais pessoal com o protagonista Mike, o que leva este enredo diretamente aos filmes seguintes), e a presença de Jody, algo negligenciado no filme anterior, devolve a ele a importância que tinha no começo. São todas características que Coscarelli, na qualidade plena e bem aproveitada de criador absoluto da saga, foi agregando à sua obra e moldando com isso uma mitologia particular, original e instigante. Na década de 1990 de então, “Fantasma” não só contabilizava três longa-metragens, como também havia atravessado três décadas de cinema (anos 1970, 80 e 90) para ser concebida. Embora jamais tenha feito parte do mainstream cinematográfico (como ocorreu, por exemplo, com “A Hora do Pesadelo” franquia de terror que transcorreu quase paralela à esta) a obra maior de Don Coscarelli já tinha chamado a atenção de fãs e aficcionados de terror pelo mundo todo. Naquele ponto, todos eles estavam ávidos por descobrir aonde as peripécias de Reggie e Mike contra o sinistro Tall Man iriam chegar.

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