Raríssima comédia francesa dos anos 1980 que marca a primeira colaboração da estrela norte-americana Sigourney Weaver e o astro francês Gerard Depardieu (a segunda foi “1492-A Conquista do Paraíso”, de Ridley Scott). Para compreendermos um pouco melhor as origens deste projeto, vamos voltar à época da Velha Hollywood, em meados dos anos 1930, quando foi popularizado o gênero da comédia screwball. Levemente satírico, o screwball tinha como características chaves os enredos improváveis onde a classe alta (num reflexo do período da Grande Depressão) aprendia certos contextos específicos da realidade por meio de percalços graciosos, espirituosos e até românticos. Um dos inúmeros filmes muito lembrados desse nicho em particular é o clássico “Levada da Breca”, de 1938, a reunir em cena os astros Cary Grant e Katherine Hepburn. Pois eis que o filme francês “One Woman Or Two” vem a ser, portanto, uma refilmagem, em plenos anos 1980, de “Levada da Breca”!
Se a obra hollywoodiana dos anos 1930 tinha o viés
ideológico de seu tempo como mensagem subliminar –as mulheres ascendendo como
protagonistas tão dinâmicas quanto os homens, num mundo em que as bases sociais
e econômicas enfrentavam turbulentas transformações –na realização francesa,
está em foco uma espécie de percepção muito oitentista do que seria o
entretenimento em geral, e a comédia em particular; o romance (como parecia
inerente em muitos filmes até de outros gêneros daquela época) se apropria da
premissa para gerar uma circunstância de estranhamento e comicidade que atende
às demandas do público de então, mais interessado na curiosidade desconcertante
da proposta em si do que na desconstrução de papéis comportamentais.
Dessa forma, temos então o arqueólogo
interpretado por Gerar Depardieu, Dr. Julien Chayssac, realizando uma
descoberta bombástica: Os restos mortais, datados de 2 milhões de anos atrás,
do que seria o primeiro exemplar de uma mulher francesa! A descoberta do fóssil
(logo apelidado Laura) transforma o tímido arqueólogo numa celebridade que,
como costuma ocorrer em tais condições, não tarda a atrair aproveitadores. É
dessa forma que se apresenta a ele a solícita, entusiasmada e petulante
publicitária Jessica Fitzgerald (Sigourney Weaver, possivelmente, a única
estrela americana dos anos 1980 capaz de igualar os trejeitos incomuns de
Katherine Hepburn) representando uma organização de caridade disposta a usar da
imagem de ‘Laura’ como campanha para uma marca de perfume (?!), contudo,
Jessica é, na verdade, uma executiva da Madisson Avenue e seus interesses gananciosos
no famoso fóssil passam longe de qualquer virtude. Isso fica claro quando
aparece a Sra. Heffner (Ruth Westheimer), verdadeira representante de uma organização
filantrópica, no caso, o Apadroamento Americano das Ciências. Nas confusões que
se seguem, o atrapalhado e perplexo Dr. Chayssac e a voluntariosa americana
Jessica encontram (claro!) uma inesperada afinidade amorosa.
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