Dentre todos os filmes de franquia “Hora do Pesadelo”, o segundo filme é até hoje alvo de um culto inusitado: Criticado à época e apontado por muitos como uma espécie de alegoria velada ao homossexualismo enrustido –isso, nos anos 1980, quando o ápice da AIDS levou Hollywood e a sociedade à uma crise de discriminação generalizada –comprometendo muitos dos envolvidos no projeto. Certamente, aquele que mais sofreu a repercussão negativa do longa foi o ator Mark Patton, intérprete do jovem protagonista Jesse, cuja interpretação foi, por muito tempo, atrelada ao viés homoerótico apontado no filme.
Este documentário, realizado por Roman
Chimienti e Tyler Jensen, em 2018, esmiúça ao lado de Patton, esses percalços
em busca de uma verdade e das torpes razões preconceituosas que levam
ocasionalmente à destruição de uma carreira.
Inicialmente, “Screen, Queen! My Nightmare On
Elm Street” foca sua atenção na progressão da carreira artística de Mark
Patton: Por volta de 1977, ele participou de uma montagem teatral, na Broadway,
da peça “Come Back To The Five and Dime, Jimmy Dean, Jimmy Dean”, como um dos
personagens coadjuvantes. Quando a peça foi adaptada para cinema, em 1982, por
Robert Altman, com Cher, Sandy Dennis e Karen Black (aqui no Brasil com o
título “James Dean, O Mito Sobrevive”), Mark fez sua estréia cinematográfica.
Vivendo de papéis coadjuvantes, ele julgou que havia finalmente ganhado sua
grande chance ao ser selecionado para participar de “A Hora do Pesadelo 2”, de
Jack Shoulder (diretor de “The Hidden-O Escondido”), afinal, “A Hora do Pesadelo” original havia sido um grande sucesso e revelado ao mundo o astro
Johnny Depp. No entanto, nem Mark, nem a indústria hollywoodiana e nem a
sociedade norte-americana de então estavam prontos para a desconstrução que o
filme propunha em suas entrelinhas: Ao colocar um rapaz como alvo do vilão
Freddy Krueger –indo na contramão da tradição do terror que sempre colocava uma
mocinha –o roteiro tornava o personagem masculino uma vítima indefesa,
agregando-lhe características femininas. Isso, e mais uma variedade de
situações criadas dentro do filme (como uma cena ambientada no Bar Gay mais
famoso de Los Angeles) acabavam levando à uma conclusão de ambivalência sexual.
O filme despertou a homofobia de parte do
público e da crítica, e muitos foram (inclusive o roteirista David Chankins,
tentando livrar a cara) os que apontaram a atuação de Mark Patton como
principal responsável por essa impressão; há, por sinal, até mesmo um depoimento
posterior, no qual o diretor Shoulder tenta afirmar, sem a menor convicção, que
não imaginava que “Pesadelo 2” tivesse, na época, essas sugestões homossexuais
em seu enredo.
A partir do lançamento do filme, o estigma de
homossexual passou a perseguir Mark impedindo-o de obter bons papéis, e
fazendo-o, com o tempo, abandonar a carreira de ator. Mark Patton era, de fato,
homossexual –ele foi, inclusive, infectado por HIV, por um parceiro –no
entanto, ele manteve-se dentro do armário em seu início de carreira, por razões
óbvias: O preconceito para com homossexuais era extremo na virada dos anos 1970
para os 80, e o medo da AIDS promoveu uma Caça às Bruxas em Hollywood. Quando
ficou claro que ele jamais seria visto pela indústria como algo que não um ator
homossexual, Mark Patton desistiu do cinema, foi estudar arquitetura e morar no
México.
O filme de Chimienti e Jensen (produzido pelo
próprio Mark Patton) resgata sua história e vale-se da passagem do tempo
(exatos trinta e três anos depois) para mostrar a mudança radical sofrida pela
percepção do filme (outrora execrado, e mais tarde, abraçado pela comunidade
LGBT), aproveitando para rever conceitos negados veementemente pelos
realizadores de “A Hora do Pesadelo 2” na época em que fora lançado –nesse
sentido, a despeito das inúmeras participações do elenco e da equipe técnica
que a obra reúne, é absolutamente essencial a cena em que Mark Patton fica
cara-a-cara com o roteirista David Chankins, que termina pedindo-lhe perdão por
ter botado toda a culpa do subtexto gay do filme em Mark.
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