Prova do poder abrangente conquistado pela Netflix, a medida que o já estabelecido formato de streaming ganha cada vez mais adesão do público, a plataforma comprou os direitos do sensacional “Entre Facas e Segredos”, de seu criador em pessoa, Rian Johnson, para ter exclusividade absoluta sobre sua continuação, este notável “Glass Onion” –e certamente sobre outras continuações mais que virão.
Seguindo a linha e estilo investigativo de
Agatha Christie (as história de Hercule Poirot, como “O Assassino No Expresso do Oriente”) e Arthur Conan Doyle (as histórias de Sherlock Holmes), os filmes
dessa nova série centralizam-se no detetive Benôit Blanc (vivido com entusiasmo
fulgurante por Daniel Craig), um gênio da dedução prática e do raciocínio
rápido que leva, sobre suas influências ancestrais e literárias já citadas, a
vantagem de pertencer ao presente, e portanto, à um mundo onde as tramas
rocambolescas e intrincadas de investigação veem adornadas com as usuais peculiaridades
da vida moderna, como as mídias digitais, o comportamento das
pseudo-celebridades e, neste caso em questão, as circunstâncias muito
particulares da pandemia: Em seu arrojo, “Glass Onion” é uma das primeiras
produções hollywoodianas a ambientar sua trama –ainda que vagamente –dentro do
período característico e lastimável do lockdown
iniciado em 2020, no qual Benôit Blanc, dono de uma mente brilhante e inquieta
–e, por isso mesmo, ávida por desafios ao seu intelecto –está quase a
enlouquecer dentro da segurança de seu apartamento.
Contudo, um inesperado caso a ser resolvido vem
atender seus anseios: Um convite inusitado para um fim-de-semana junto de
vários amigos pessoais do excêntrico bilionário Miles Bron (Edward Norton) em
sua luxuosa ilha particular, a fim de participar de uma estranha brincadeira na
qual o mistério a ser desvendado vem a ser o de seu iminente assassinato (!).
No entanto, há um outro mistério pairando no ar: Ninguém conhece Benôit Balnc
(salvo sua alardeada fama, claro), e Benôit Blanc não conhece ninguém. Quem,
então, enviou-lhe o convite para que participasse da reunião?
Tal convite, diga-se, é entregue no prólogo,
aos demais convidados, na forma de uma caixa enigmática e elaborada a qual eles
devem decifrar vários enigmas até abrí-la por completo (no melhor estilo
“Código Da Vinci”) para então encontrar o cartão de convite; e tais convidados são:
A candidata à senadora Claire Debella (Kathryn Hahn, de “Um Amor A Cada Esquina” e da série “WandaVision”); a fútil modelo Birdie Jay (Kate Hudson) em
vias de chegar à precoce aposentadoria da profissão; o cientista Lionel
Toussaint (Leslie Odom Jr.), o digital influencer Duke Cody (Dave Bautista),
junto de sua ostensiva namorada Whiskey (Madelyn Cline, de “Boy Erased”) e a
maior responsável pela fortuna de Miles, Cassandra Brand (Janelle Monáe, de
“Estrelas Além do Tempo”) e, por conta de um golpe aplicado no passado pelo
próprio Miles, tida pelos demais como persona
non grata na ilha.
Todos –talvez, com a exceção de Cassandra e do próprio
Benôit –se encontram lá, menos pela forte amizade por Miles Bron, e mais porque
cada um, por diferentes razões, depende dele e de seu dinheiro para manter o
elevado status de vida, e todos se
tornam suspeitos quando, em determinado momento, mortes começam a acontecer –e nenhuma
se trata da morte de Miles, veja só!
Como todo o bom suspense que se preza –e que
parece fazer muito o gosto do diretor e roteirista Rian Johnson, apaixonado por
tramas complexas –nada é o que parece ser, e revelações pontuais acabam não
apenas modificando por completo as relações inicialmente presumidas entre os
personagens, como também dando rumo completamente inesperado ao próprio filme.
Está aqui, pois, um verdadeiro desafio aos expectadores que se acreditam
capazes de tentar antecipar e adivinhar as vindouras guinadas de um argumento.
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