“Divertida Mente”, o longa de animação tão perfeito da Pixar e que, em geral, servia como exemplo para o argumento da empresa em não se dedicar à realizar continuações e sim criar produções originais; eis que “Divertida Mente” ganha, agora, uma continuação! As razões para isso são menos as decisões de orientação artística de seus normalmente bem-intencionados realizadores e mais a ganância dos tubarões executivos que controlam o dinheiro da empresa e que nela mandam de fato: A Disney (proprietária da Pixar, só pra lembrar) agora tem seu próprio serviço de streaming, o Disney Plus, e a intenção dos executivos é recheá-lo de conteúdo exclusivo para atrair assinantes. E certamente é mais interessante para as campanhas de marketing que esse conteúdo exclusivo traga, de novo e de novo, os personagens já estabelecidos, já conhecidos e oriundos de grandes sucessos de outrora, para novas produções que o público só haverá de encontrar lá.
Assim, eis que os artesões da Pixar tiveram,
portanto, que voltar atrás em suas palavras e fazer a continuação que não
estava em seus planos. Entretanto, saber de antemão que isso não era previsto
torna, em alguns momentos, a apreciação de “Divertida Mente 2” até que
admirável: A nova animação flui com uma trama de progressão quase natural para
com sua premissa original; é espontânea, criativa e digna; e, tal e qual o
anterior, traz uma mensagem valiosa, com lições pertinentes e momentos de
genuína emoção, tudo isso, numa voltagem menos intensa que no primeiro filme, é
verdade, mas ainda gratificante o suficiente para aplaudirmos a existência
desta segunda parte.
Agora um pouco mais crescida que no primeiro
filme, a menina Riley está adentrando a adolescência. E tal etapa da vida, é
sabido, vem com transformações radicais no modo de ser e de se comportar. Também
no interior, essas mudanças se fazem notar: Em sua mente, regida pelas cinco
emoções que a Pixar converte em personagens individuais, Alegria (voz de Amy
Poehler), Tristeza (voz de Phyllis Smith), Nojinho (voz de Liza Lapira), Raiva
(voz de Lewis Black) e Medo (voz de Tony Hale), novidades começam a chegar, na
forma de emoções novas que Riley haverá de experimentar nos próximos dias
decisivos de sua vida estudantil –são elas a Ansiedade (voz de Maya Hawke),
Inveja (voz de Ayo Edebiri), Vergonha (voz de Paul Walter Hauser) e Tédio (voz
de Adele Exarchopoulos) –há também uma senhorinha, Nostalgia (voz de June
Squibb), sempre censurada pelas demais por chegar prematuramente!
Apaixonada jogadora de hóquei no gelo, Riley
parte para uma colônia de treinamento com suas amigas e, nos dias que se
seguem, precisa lidar com circunstâncias que desafiam sua maturidade: Suas duas
melhores amigas contam que vão, juntas, mudar de escola. O que deixa Riley
sentindo-se sozinha, necessitando de novas companhias. Isso a leva a tentar
enturmar-se com as garotas mais velhas e mais experientes, o que vem com uma
dose a mais de cobrança e de pressão –afinal, não é fácil para uma adolescente
insegura e com seu caráter em formação mostrar-se legal e confiante às novas
amigas da forma como ela gostaria.
Essa é a trama geral que acompanha “Divertida
Mente 2”, porém, sua trama verdadeira, é a que se desenvolve dentro da mente de
Riley, a envolver suas emoções, que agem e reagem a partir dos acontecimentos
vivenciados por Riley. Para Alegria –a emoção que sempre norteou Riley desde o
começo –manter-se fiel às suas convicções (aquelas formadas a partir de valores
inocentes de criança) é uma prioridade, mas Alegria, ao refutar toda lembrança
de fracasso impede Riley de aprender com seus erros. É essa brecha da qual
Ansiedade se aproveita; emoção complexa, nascida a partir do temor de errar e,
portanto, irrequieta a ponto de tentar prever incessantemente cada passo
iminente, Ansiedade sabe que, com o crescimento, uma nova Riley, menos criança,
está surgindo e, para tanto, ela crê que não há mais espaço para suas antigas
emoções. E é assim que Alegria, Tristeza, Nojinho, Medo e Raiva são expulsos da
cabine de controle da mente. Incapaz de sentir suas emoções originais, resta a
Riley a Ansiedade, a Inveja, a Vergonha e o Tédio para tentar lidar com as
novas situações com as quais se depara, como a disputa por uma vaga no time de
hóquei aos olhos na exigente treinadora (que, pela primeira vez, não a trata
feito criança!), o afastamento das antigas amigas (e toda a mágoa implícita que
vem com isso), as tentativas perplexas de impressionar as amigas novas, e a
árdua tarefa de lidar com suas profundas frustrações quando muitas dessas
expectativas não acabam atendidas.
Nesse meio-tempo, Alegria e os outros
empreendem toda uma nova jornada –em grande medida, até bem semelhante à do
filme original –para tentar encontrar um meio de regressar à torre de comando
antes que Ansiedade, na histriônica ilusão de resolver tudo sozinha e por conta
própria, ponha tudo a perder.
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