Nada é sagrado em Hollywood. A regra geral, que perdura já tem muitas décadas, é que, se fez sucesso, deve ganhar uma sequência –em certos casos, nem necessita tanto sucesso assim... Improvável, portanto, que uma das realizações mais aclamadas, bem-sucedidas e portentosas de todos os tempos acabasse escapando dessa engrenagem. Quando foi lançado, seja no meio literário, seja no meio cinematográfico, uns anos depois, “E O Vento Levou”, escrito por Margareth Mitchell, foi um sucesso imediato; o filme em si, arrastou multidões para as salas de cinemas –com valores atualizados da inflação, ele continua sendo, até hoje, a maior arrecadação financeira da história do cinema, mesmo a frente de sucessos como “Avatar” e “Vingadores-Ultimato” –e saiu laureado com o maior número de prêmios na histórica cerimônia do Oscar 1940, tida como a mais disputada de todas.
Não apenas o público, mas, sobretudo, os
gananciosos estúdios e produtores, sempre imploraram para a autora que uma
continuação fosse escrita –até por conta do instigante final em aberto que a
obra tem. Entretanto, Margareth Mitchell nunca arredou o pé; a escritora sempre
se manteve firme na convicção de que a história não deveria ser continuada,
permanecendo da maneira como estava. No entanto, os direitos autorais de
Margareth Mitchell (que faleceu em agosto de 1949) iriam expirar nos anos 1970,
foi quando se iniciaram os procedimentos para, enfim, dar continuidade à “E O
Vento Levou”. Com os direitos autorais disponibilizados por seu herdeiro (no
caso, o irmão de Margareth Mitchell), a trama da sequência, após muitas idas e
vindas, acabou nas mãos da escritora Alexandra Ripley que publicou a
continuação das aventuras e desventuras de Scarlett O’Hara em 1991 –o livro
tinha tão somente o título de “Scarlett”.
Três anos depois, em 1994, já estavam em
gestação os planos para que a adaptação ganhasse a luz do dia. Para espanto de
muitos cultuadores do épico original –que consideravam tudo isso uma heresia!
–a sequência foi uma minissérie para TV e não uma obra para cinema; aqui no
Brasil “Scarlett”, ou “E O Vento Levou 2”, foi lançado, com seus quatro
capítulos compactados num único filme, diretamente em homevideo.
Para o lendário papel de Scarlett O’Hara (cuja
procura pela intérprete ideal, que culminou na magnífica Vivien Leigh, foi
enredo do sensacional telefilme “Moviola”) foi escolhida a atriz britânica
Joanne Whalley (então, casada com Val Kilmer, ela havia chamado alguma atenção
no thriller “Escândalo”, de 1989) para o papel de Rhett Butler (imortalizado
por Clark Gable) foi chamado o ex-James Bond Timothy Dalton (ele tinha acabado
de ser substituído por Pierce Brosnan) e para o papel de Ashley Wilkes (vivido
no original por Leslie Howard) foi escolhido o ator Stephen Collins (da série
“O Sétimo Céu”).
Na trama, que se inicia na manhã seguinte, em
relação ao desfecho do filme original, encontramos Scarlett em Atlanta, no dia
do funeral de Melanie Wilkes. Após a partida de Rhett, depois da morte trágica
da filha do casal, ela permanece determinada em reconquistá-lo. Contudo, Rhett
deseja esquecer o passado e voltar a ser o velho soldado da fortuna desapegado
de antes, e com isso, ele atrai a companhia da cortesã Belle Watling
(Ann-Margret).
Numa manobra que afasta a personagem de sua
essência original, é Scarlett quem se esforça para reconquistar o amor de Rhett,
tornando a primeira parte da trama uma série de situações aleatórias e pouco
envolventes: Retornando à Tara, a fazenda de propriedade de sua família,
Scarlett descobre as dificuldades nas quais está vivendo sua irmã, Sue Ellen
(Melissa Leo, vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “O Vencedor”),
ocupante de lá.
Em seguida, termina indo para Charleston,
visitar a Família Butler e tem atritos com a mãe de Rhett (Julie Harris) na
tentativa de ganhar a ajuda dela para uma reconciliação. Entre uma escapadela
com sua antiga paixão, Ashley, e uma ida à propriedade de sua mãe em Savannah,
enquanto é recebida por seu avô Robelard (John Gielgud), Scarlett procura
reaproximar-se de seus parentes, como o primo Colum (Colm Meaney, de “Os Vivos
e Os Mortos”), ordenado padre.
A partir de certo ponto, frustrada pelos
infortúnios, Scarlett decide viajar para a Irlanda,
onde conhece o Lord Richard Fenton (Sean Bean),
dono da propriedade Ballyhara, a casa ancestral dos O'Hara. Ela compra-lhe a
propriedade e torna-se assim, a chefe da família O'Hara, contudo, Scarlett
termina se envolvendo na guerra civil de outro conflito armado, um pano de
fundo histórico que substitui, de forma um tanto quanto ineficaz, a Guerra de
Secessão do primeiro filme. Na Irlanda, Scarlett é perseguida, violentada e
presa –num enredo cuja sucessão de revezes lembra involuntariamente uma
novelona mexicana! –e, acusada no tribunal, é socorrida na última hora por
Rhett.
Mesmo sua fonte, o livro de Alexandra Ripley,
já era incapaz de igualar a excelência da fonte original, que o diga esta
adaptação limitada, básica e negligenciada –sequer teve um bom orçamento da
parte de sua produtora, a emissora de TV CBS –o resultado é uma obra sôfrega,
balbuciante na tentativa de acompanhar os desdobramentos do livro, incapaz de
igualar qualquer lampejo de intensidade da magnânima produção que almeja dar
continuidade.
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