domingo, 30 de junho de 2024

Poção do Amor Nº 9


 Entre uma obscuridade quase cult e o esquecimento completo, a comédia romântica “Poção do Amor Nº 9”, de 1992, foi um dos primeiros filmes a contar com a presença de Sandra Bullock, bem antes dela se tornar famosa. Como toca neste tipo de situação, ela é, aqui, mais coadjuvante do que protagonista ainda que, como acontece em muitos casos, sua presença não demore à gradativamente começar a se destacar.

O protagonista de fato deste filme, escrito e dirigido por Dale Launer (ele escreveu e produziu a comédia “Meu Primo Vinny”), é Paul Matthews, interpretado por Tate Donovan (que, em algum momento antes, durante ou depois das filmagens, namorou Sandra). Paul é o típico romântico dos anos 1980, é sensível e consciente até demais da própria insignificância –essa baixa auto-estima não lhe deixa ter sucesso com as mulheres; na verdade, as rejeições que Paul coleciona, nas suas frustrantes saídas noturnas, são vexaminosas! No desespero absoluto para com essa falta de sorte com o sexo oposto, Paul busca um auxílio místico: A exótica cigana Madame Ruth (a veterana Anne Bancroft) que lhe entrega um produto com a promessa de mudar tudo: Uma poção do amor!

Contudo, Paul é um bioquímico competente e suas pesquisas, ao lado da amiga e colega Diane Farrow (Sandra, numa personagem inicialmente desengonçada e feia, mas que vai se tornando absurdamente linda com o avanço da trama), também ela sofrendo de baixa auto-estima e desejosa de encontrar a alma gêmea, visam descobrir de onde provem o verdadeiro efeito milagroso da poção e, se possível, analisá-lo! Assim, os dois descobrem que a fórmula funciona a partir de feromônios poderosos que interagem na natureza –como os hormônios naturalmente exalados pelas fêmeas dos chimpanzés, que deixam os machos da espécie simplesmente loucos por elas! –que o tal efeito (que se dá curiosamente por meio do som da voz) dura cerca de quatro horas, restando assim o teste em... humanos!

Após muita persistência da parte dos dois, eles desenvolvem uma versão spray da poção do amor (que, segundo a cigana, vem a ser o composto de nº 8), bastando borrifá-lo na própria boca para que sua voz, quando ouvida, tenha o efeito desejado nas pessoas que almejam seduzir. E, de fato, Paul se torna um conquistador implacável –não há mulher que consiga lhe dizer não! –e Diane não tarda a fisgar um belo partido, primeiro, um milionário italiano (interpretado por Adrian Paul que, poucos anos depois, faria a série televisiva inspirada em “Highlander-O Guerreiro Imortal”), e logo depois, ninguém mais ninguém menos do que o próprio príncipe da Inglaterra (!) vivido pelo ator Dylan Baker (de “Treze Dias Que Abalaram O Mundo”).

Apesar disso, ambos (Paul e Diane) acabam se apaixonando pelas únicas pessoas nas quais não testaram realmente a poção: Um pelo outro –é particularmente encantadora a cena em que a personagem de Sandra vai buscar Paul que está preso em uma delegacia e, ainda com a poção fazendo efeito, evita de falar com ele usando a voz e tenta se comunicar por meio de pantomina (ali já estão todos os elementos que viriam a fazer dela, inevitavelmente, uma estrela).

Contudo, Diane acaba, ainda assim, marcando casamento com outro cara, o metido a playboy Gary (Dale Midkiff, de “Cemitério Maldito”). Para Paul não há outra explicação: Somente o uso inescrupuloso da poção do amor por parte de Gary haveria de fazer Diane comportar-se de tal maneira e, ao pedir auxílio à cigana, ela lhe concede o único exilir capaz de colocar toda essa confusão em ordem novamente: A poção do amor nº 9.

Baseado numa canção dos anos 1960 (que já toca durante os créditos iniciais, cantada pela banda “The Searchers”) e acometido de diversos maneirismos narrativos característicos da então recém-terminada década de 1980 (isso sem contar as roupas, as músicas, os penteados, a ambientação...), “Poção do Amor Nº 9” é tão datado que passa até mesmo uma sensação agridoce que por vezes soterra seu humor –também ele estranho na mescla, hoje não muito usual, entre uma comédia mirabolante e pretensamente ferina e um romantismo de viés masculino, para não dizer machista (as personagens femininas, mesmo a de Sandra, são construídas com rasura e indiferença propositais) –entretanto, não obstante todo esse anacronismo, é possível acompanhá-lo do início ao fim sem perder o interesse.

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