quinta-feira, 4 de julho de 2024

That's Sexploitation


 Lançado em 2013, dirigido por Frank Henenlotter (diretor do cult e tresloucado “Frankenhooker-Que Pedaço de Mulher!”) e produzido por Donald A. Davis (“Love Camp 7”), David F. Friedman (“Her Odd Tastes”) e Arthur Night (“My Seven Little Bares”), profissionais veteranos autores de algumas obras diretamente relacionadas ao tema, este documentário joga luz sobre o sub-gênero do sexploitation, uma variação do conceito de erotismo no cinema que, embora tenha exemplares datados de meados da década de 1920, surgiu mesmo como uma forma de driblar o famigerado Código Hays (um conjunto de normas e restrições para filmes hollywoodianos exigido por investidores estabelecido no início dos anos 1930) e sobreviveu até a década de 1970, quando o auge dos filmes pornográficos –e sua consequente aceitação em circuitos comerciais –levou o sexploitation a se extinguir.

Funcionava mais ou menos assim: Enquanto os filmes comerciais, predominantes em exibição nas salas de cinema (já de propriedade de muitos dos próprios estúdios) precisavam se restringir à censura do Código Hays, os sexploitation, exibidos em salas menores e produzidos sob esquema de guerrilha por profissionais undergrounds da área que os ‘disfarçavam’ de documentários, atendiam às demandas por sexo e violência elevados que os filmes de Hollywood não eram capazes de corresponder. Fora do circuito comercial, os sexploitation não eram encontrados pela patrulha do Código Hays, mas eram encontrados por seu público!

Dentro do sexploitation uma série de pseudo-categorias afloraram, meio que correspondendo aos anseios primitivos dos expectadores (sobretudo, homens) e às intenções de mercado de seus realizadores –assim surgiram obras como os Nude camp (realizados em alusão aos campos de concentração nazistas, onde as atrizes, interpretando prisioneiras, se expunham às perversões dos oficiais que as tinham sob seu jugo, deixando-as nuas e, por vezes, submetendo-as à torturas e outras práticas sádicas), os Native films (obras, muitas vezes travestidas de documentários, que fetichizavam a nudez de mulheres africanas e/ou polinésias), War training films (filmes ambientados em campos de treinamentos, mostrando a frequente situação onde soldados tiravam a roupa para exames médicos), Sex higiene films (filmes supostamente educacionais, onde modelos tiravam a roupa a fim de ilustrar com despudor os cuidados com o corpo e a saúde), Burlesques films (filmes mostrando apresentações de palco, com muito striptease), Lesbian films (proliferando mais na década de 1960, eram filmes onde mulheres, européias em geral, faziam sexo umas com as outras) e os Cutie nudies (versões que, com o tempo, eram cada vez mais focadas na pornografia, fosse ele softcore ou hardcore).

Hoje um subgênero cultuado por apreciadores como Quentin Tarantino, o sexploitation revelou artesões como Russ Meyer (de “Faster, Pussycat! Kill! Kill!””), Louis J. Gasnier (do antológico “Reefer Madness”), Donn Greer (de “Alice Na Terra dos Ácidos”), Doris Wishman (de “Diário de Uma Nudista”) e David Friedman (um dos produtores, aliás) que usaram desses expedientes para dar vazão às suas próprias taras e obsessões, fazendo, no processo, a diversão de seu público. Este documentário presta um tributo à esse ímpeto criativo –mais relacionado à desenvoltura de suas execuções à luz da vigilância do que à valores artísticos de fato –e à iniciativa travessa desses realizadores em não se deixarem calar por restrições de comportamento inerentes à época em que pertenceram.

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