domingo, 19 de maio de 2024

Frankenhooker - Que Pedaço de Mulher!


 O primeiro filme assistido por um ainda bem jovem Frank Henenlotter (com sete anos de idade!) foi o terror “Vale dos Zumbis” (de 1946, dirigido por Philip Ford), a ele seguiu-se, anos depois, “Força Diabólica” (1958, de William Castle), “Psicose” (este dispensa apresentações!) e “Circo de Horrores” (1960, de Sydney Hayers, o seu preferido) experiências que moldaram o caráter e a personalidade de Henenlotter enquanto realizador –e o fizeram apaixonado por alguns dos expedientes mais extremos do gênero terror. Só para se ter uma ideia, o seu primeiro trabalho em curta-metragem, “Slash Of The Knife”, foi considerado demasiado ofensivo para obter uma exibição junto de “Pink Flamingos”, de John Waters (!).

Entretanto, foi na ocasião desse projeto pessoal e quase experimental (como foram pessoais e quase experimentais praticamente todos os trabalhos da carreira de Henenlotter) que ele conheceu o produtor Edgar Levins, que assinou a produção de seus longa-metragens, incluindo este “Frankenhooker”, lançado em 1990.

Como o próprio título original já sugere, “Frankenhooker” é uma variação plena de deboche do clássico “Frankenstein”, de Mary Shelley, tantas vezes adaptado para cinema. Interpretado pelo ator James Lorinz (de “O Rei de Nova York”) o protagonista, Jeffrey Franken (nome que, a um só tempo, faz referência ao personagem principal do clássico “Frankenstein” como também do cult “Re-Animator”), é um eletricista que acalenta a ideia de tornar-se um inventor ou cientista (um ‘bio-eletricista’ diz ele) mesmo que alienado da realidade. Uma de suas inúmeras criações vem a ser um cortador de grama avançado que, em descontrole, estraçalha sua noiva, Elizabeth (vivida por Patty Mullen, ex-modelo erótica da revista Penthouse). Inconformado com a bizarra tragédia, Franken põe em prática uma plano ainda mais bizarro: Ele desenvolve em laboratório uma espécie de crack explosivo –quando consumido, leva seus usuários a explodirem em pedaços (!) –e sai pela noite, mais especificadamente pelos inferninhos nova-iorquinos, oferecendo a droga para diversas prostitutas, escolhendo as partes do corpo que mais lhe interessam na intenção de uní-las à cabeça de Elizabeth e recriar, por meio de uma experiência, sua noiva outra vez (!).

No entanto, a experiência não sai exatamente como planejado: a Criatura (uma vez mais interpretada por Patty Mullen) é despudorada e desengonçada (ainda que sexy), tendo herdado também a natureza promíscua oriunda dos pedaços anatômicos das prostitutas. A ela não interessa nem um pouco retomar qualquer vínculo sentimental com o Dr. Franken, mas sim sair pela noite a rodar sua bolsinha (!), e propor uma transa aos clientes mediante pagamento (!!), contudo, há uma complicação: Surgida justamente de uma experiência eletromagnética, a tal Criatura, ao chegar no clímax sexual, provoca uma descarga elétrica em seus parceiros, levando-os à morte!

Ousado na sua miscelânea incomum e desconcertante de gêneros –possui todas as audácias impraticáveis do terror extremo; todas as galhofas debochadas e desembaraçadas de uma comédia pastelão; e todos os absurdos crescentes e escatológicos de uma fábula macabra –“Frankenhooker” só não se revela um filme ainda mais gráfico no que diz respeito ao gore (como foram os trabalhos anteriores de Henenlotter, os doentios “Basket Case 1 e 2”) graças à iniciativa de seu técnico em efeitos especiais, Gabe Bartalos, que optou, neste projeto, por um repertório que priorizasse raios e fumaças (numa homenagem aos Clássicos de terror da Universal) ao invés dos usuais sangue e vísceras.

Mesmo assim, o resultado segue sendo uma pérola absurdista, tosca e deturpada, um exemplo quase singular de como puderam ir à extremos alguns trabalhos irrestritos do cinema trash perpetrados nos anos 1990.

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