Eis um bem vindo filme incomum no aborrecido
circuito comercial.
A história da gênese deste projeto é, ela
própria incomum, e merece ser contada para uma melhor compreensão do filme que
dali se originou.
Notável e promissor realizador de
curta-metragens, o roteirista e diretor Ned Benson concebeu uma história de
amor dividida em dois pontos de vista, que esmiuçava assim, não somente os detalhes
pertinentes a uma trama de romance, mas também as percepções distintas de cada
uma das partes. A importância de determinados personagens para um, em
detrimento do pouco significado que eles têm para o outro. Ou mesmo a distinção
até extrema com que cada pessoa enxerga o mesmo fato. E tão rica essa história
era que exigia, assim, uma divisão.
Dessa forma, nasceram dois filmes com o
mesmo título (The Disappearance of Eleanor Rigby ), que o
circuito alternativo dos festivais de cinema independente receberam como sendo
"His" e "Her", ou seja, "Ele" e "Ela".
Assim, a experiência como um todo resultava em assistir dois filmes de uma hora
e meia de duração cada um.
Mas, e ao ser lançado em cinemas, ou locadoras
(como foi unicamente o caso, aqui no Brasil)?
Bem, para isso foi criada uma versão
"They", isto é: "Eles", uma junção de ambas as versões, que
é o que será resenhado aqui.
Sabendo de antemão desse formato prévio com que
foi planejado, é até interessante acompanhar o filme (que não se enganem, é
fascinante por si só!): percebe-se a dicotomia de certas cenas que teriam um
tratamento numa e em outra versão.
O resultado é um filme de pouco mais de duas
horas. Uma história de amor, que não é sobre o amor, mas sobre os trágicos
percalços que o amor tem que superar, quando as coisas dão muito errado.
Jessica Chastain, particularmente, está
sensacional na interpretação intimista que entrega: ela é um tanto quanto
melhor que seu parceiro, o esforçado James McAvoy, e muito melhor que boa parte
do elenco de apoio (que tem muita gente boa, como Willian Hurt, Isabelle
Hupert, Viola Davis e Bill Hader, é importante dizer!).
O final do filme é um caso quase à parte.
Daqueles em que um grupinho reunido fica mais tempo falando dos três minutos
daquela última cena do que do resto do filme inteiro. Como alguns dos mais
instigantes trabalhos do cinema, este é um caso em que tudo está aberto à
interpretações.
O quê não deixa de ser
sensacional!
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