terça-feira, 29 de novembro de 2016

Pecados Íntimos

É interessante como a narração em off de Will Lyman consegue imprimir um tom perturbador desde o primeiro momento em que podemos ouvir aquela voz grave, narrando os fatos corriqueiros do que transcorre na tela.
Também um ator com participação em filmes como “Twister”, o diretor Todd Field mostrou um agudo senso de estilo quando lançou seu olhar profundo e sem amenidades sobre as angústias internalizadas da classe média norte-americana no impiedoso “Entre Quatro Paredes”. Ele prossegue com essa sondagem incisiva sobre o quê há de pecaminoso e amoral escondido sob aquelas inofensivas casinhas de subúrbio neste “Pecados Íntimos”, como se fosse uma junção de Ingmar Bergman com Douglas Sirk.
Baseado em um livro, ele próprio de um teor polêmico, o filme acompanha duas histórias que seguem quase sempre paralelas, mas que se chocam na seqüência final: Uma delas mostra o cotidiano de uma mãe frustrada com o casamento (Kate Winslet, extraindo excelência do que poderia ser banal) que, ao sair para brincar com sua filha em um parque próximo a sua casa, conhece um homem (Patrick Wilson, de “Watchmen”) e com ele passa a manter uma relação extraconjugal. Ele, também casado, comete uma série de pequenos pecados a fim de evitar a necessidade cada vez mais urgente de tornar-se alguém maduro.
A outra história relata a dura tentativa de readaptação à sociedade de um maníaco sexual (Jackie Earle Haley, também de “Watchmen”, num trabalho espetacular que redefiniu sua carreira), que parece consciente da própria incapacidade em represar sua patologia.
Oscilando entre essas duas tramas (e permitindo-se ramificar através de novos personagens que vão surgindo), a narrativa de Field consegue compartilhar com o expectador um particular interesse nos meandros e fissuras da classe média americana, amparada em um roteiro belamente escrito e executado pelo próprio autor do livro, Tom Perrotta. Como todos os grandes trabalhos dessa tradição cinematográfica (cujo representante maior atualmente, talvez, seja Todd Haynes) esta obra beneficia-se de seu elenco sensacional onde certamente destacam-se a magnífica Kate Winslet, e o impressionante Jackie Earle Haley, além de uma quase participação especial da belíssima Jennifer Connelly.

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