Elegância é a palavra chave no cinema de Tom
Ford. A elegância que já impregnava cada detalhe em cena de sua auspiciosa
estréia, “Direito de Amar”, continua a ditar o visual acachapante e lindo deste
seu novo e notável trabalho.
Todavia, como atestam as desconcertantes cenas
iniciais, existe espaço também, nesse esmero visual, para a feiúra: Em
enquadramentos milimetricamente bem escolhidos e bem iluminados, mulheres
velhas, gordas e nuas dançam em câmera lenta diante de uma câmera que parece
fetichizá-las.
O grotesco, como veremos mais a frente, será um
tópico que o filme de Ford perseguirá durante toda sua duração –e seu
contraponto com a beleza gráfica, e com o curioso dado de que ela não trás
plena felicidade, é um dos estranhos questionamentos que ele levanta.
Amy Adams, em toda sua beleza e excelência, é Suzan, curadora
de um museu de arte moderna em Los Angeles. Ela se ressente pelo fato de sua
vida e seu casamento de aparências não lhe proporcionarem satisfação: Isso não
a deixa dormir.
Ela já havia sido casada antes, com Edward
(Jake Gyllenhaal, que interpreta também o protagonista na história dentro da
história), um escritor que ela deixou há dezenove anos.
Uma noite, Suzan recebe uma encomenda: Um
manuscrito de um livro que Edward escreveu em sua homenagem.
Ela começa a leitura (cada vez mais obsessiva)
do tal livro cuja trama guarda, de forma alegórica, uma inesperada ressonância
com o matrimônio que tiveram. Não fosse a direção refinada de Ford, essa trama
serviria também, à uma típica produção exploitation dos anos 1970: Família
composta pelo marido (Gyllenhaal), pela esposa (Isla Fisher) e pela filha
adolescente atravessa os desertos do centro-oeste americano à noite.
Tentam ultrapassar um carro ocupado por
desordeiros liderados pelo ameaçador Ray (Aaron Taylor-Johnson), mas acabam
arrumando encrenca com o grupo. Eles fazem seu carro parar e, após uma
discussão extremamente tensa, carregam a mulher e a filha para outro lugar,
deixando o marido à pé na estrada.
Com a ajuda de um policial (Michael Shannon)
ele as procura dando início a uma escalada de momentos trágicos.
A condução vai assim contrabalançando essa
trama árdua, violenta e desesperadora, com o dia a dia de Suzan e suas memórias
ocasionais e elípticas da relação que teve com Edward, deixando que quaisquer
analogias que sejam estabelecidas entre essas três linhas narrativas fiquem por
conta do expectador.
Uma obra que justapõe as
percepções da violência reprimida e/ou extravasada, os diferentes âmbitos de
mundo em que elas se deflagram, e as conseqüências disso tudo no íntimo dos
personagens, narrada com enorme perícia.
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