“Prisoners” é um filme que levanta diversas
questões: É justo que se estabeleça um limite ético para um pai que deseja
salvar seus filhos? Até que ponto a lei pode ser torcida para salvar uma vida?
Existe realmente culpa quando ela vem impelida por certa insanidade?
“Prisoners” é também mais um dos grandes
trabalhos de Denis Villeneuve. Aqui, ele adota um tom inquietante, um ritmo
parcimoniosamente lento (tão mais lento nos momentos em que não gostaríamos que
fossem) e muitas das características que já o definem como cineasta para
colocar isso tudo a serviço de uma obra de suspense.
Cidade de Boston. Duas meninas por volta dos sete
anos de idade desaparecem para aflição de suas famílias. O detetive designado
para o caso (Jake Gyllenhaal, excelente) logo prende o principal suspeito (Paul
Dano), um rapaz esquisito com mentalidade debilitada. Em seu trailer não há
indício algum do seqüestro o que obriga a polícia a libertá-lo, para desespero
do pai de uma delas (Hugh Jackman, tão magistral quanto Gyllenhaal).
Villeneuve permite que a circunstância atroz em
torno da qual a narrativa respira (as crianças foram raptadas? Continuam
vivas?) tangencie o próprio tempo para perplexidade do expectador: Sente-se
cada segundo de agonia que passa enquanto ele insiste em não revelar o
paradeiro das meninas.
Este é, portanto, um filme que não poupa o público.
Nem seu protagonista: Inconformado, o personagem de Hugh Jackman aprisiona o
rapaz mentalmente incapaz (ainda que altamente suspeito) a fim de torturá-lo
até confessar o paradeiro das crianças.
Mas, o angustiante silêncio dele torna os dias
que se passam um suplício para todos os envolvidos.
O diretor encontra assim uma oportunidade impactante
e poderosa para esmiuçar as engrenagens que conduzem à justiça com as próprias
mãos em contraponto à lentidão alarmante das investigações, todavia, seu
registro não privilegia posturas dando largo espaço para refletir à esse
respeito numa obra carregada de pontas soltas que se amarram com primor nos
trinta minutos finais.
O desfecho do filme oferece igualmente pouca
margem para aspectos comemorativos –o quê indica a procedência nada americana
do diretor (ele é canadense): O interesse de Villeneuve está nos extremos da
dramaturgia, nos caminhos inéditos por onde pode levar seu elenco e na
construção exemplar de uma narrativa vigorosa que mescla autenticidade e força
emocional.
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