quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Em Busca da Terra do Nunca

A despeito da irregularidade que demonstrou ao longo da carreira, o diretor Marc Foster, quando acertava entregava obras muito boas. Depõe a seu favor o contundente “A Última Ceia” e, em especial, este inebriante “Em Busca da Terra do Nunca”.
Ele conta a história real de James Barry (Johnny Depp, uma escolha notável) e sua relação com a jovem viúva Sylvia Llewelyn Davies (vivida por Kate Winslet) e seus quatro filhos pequenos na Inglaterra do século XVIII: George (Nick Roud), Jack (Joe Prospero), o caçula Michael (Luke Spill) e o amargurado Peter (o surpreendente Freddie Highmore).
Barry enxerga no desamparo afetivo dessa família um desalento que reflete a agonia de seu próprio casamento com Mary (Radha Mitchell), então entrando numa crise irreversível. Junto deles, encontra assim uma jovialidade e uma satisfação que lhe reacendem sua capacidade criativa, cujo bloqueio começava então a ser cobrado por seu produtor (Dustin Hoffman), sequioso de um novo e rentável trabalho: A última obra de Barry não havia tido lá muito boas críticas.
Contudo, o que surge a partir dali será, em tudo e por tudo, especial –Teatrólogo, Barry vale-se das experiências lúdicas e sentimentais vividas ao lado daquela família para criar e elaborar os elementos com os quais irá compor uma obra imortal sobre a infância e a imaginação: o clássico “Peter Pan”.
A meia hora final, na qual assistimos cheios de expectativa a primeira e mágica apresentação de “Peter Pan” para uma platéia maravilhada e boquiaberta, está entre as cenas mais cativantes e encantadoras do cinema.
Longe da intenção restritiva de fazer exatamente uma biografia, este belíssimo trabalho prefere se enveredar pelos meandros ora lúdicos, ora reais através dos quais se constrói uma obra-prima, imerso em inevitável emoção, em parte graças à brilhante atuação de Johnny Depp, que no papel de James Barry encara um dos mais difíceis trabalhos de sua carreira, e dele extrai uma emoção única e insuspeita.

“É o crocodilo tic-tac, não? O tempo persegue a todos nós!”

Simplesmente fantástico.

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