Em 2008, esta adaptação da obra de John Boyne
emocionou muitos expectadores (e ainda emociona) com sua trama sobre os típicos
horrores da Segunda Guerra Mundial aliada a uma denúncia que inclui o
sofrimento de personagens infantis –uma manobra que invariavelmente arrebata
qualquer indiferença do público.
Entretanto, poucos pararam para notar o quanto
esta produção pega emprestado de uma obra muito superior: O clássico francês
"Adeus, Meninos" de Louis Malle.
Como nele, é pelos olhos de um garotinho que
enxergamos uma rotina cujos pequenos e incipientes detalhes fazem nossa
percepção de adultos notar o horror que as distraídas crianças não notam –e já
se pode debitar do mestre Malle um dos elementos mais notáveis desse filme.
O garotinho em questão, protagonista deste
filme, é Bruno (Asa Butterfield, de “A Invenção de Hugo Cabret”), o filho de
sete anos de um graduado oficial nazista (David Thewlis, sempre tirando de
letra a ambigüidade desses personagens).
De pura ascendência alemã, Bruno vai com seu
pai e sua mãe (a maravilhosa Vera Farmiga) e um campo de concentração onde seu
pai é promovido como comandante.
Entediado pelas restritivas regras do lugar,
Bruno encontra uma brecha no muro que separa a mansão onde sua família mora e
todo o resto do lugar –que, sob rígida orientação, ele não deve visitar.
Inocente quanto às razões da guerra, o
garotinho se intriga com a vestimenta das pessoas que encontra perambulando
pelo campo de concentração.
Na ingenuidade de Bruno aqueles trajes parecem
pijamas (na realidade, são prisioneiros judeus) e diante disso, ele não vê
porque não se tornar amigo de um menino que conhece do outro lado da cerca. O
menino é Shmuel (Jack Scanlon). É careca, está sempre vestido com o mesmo
pijama que os outros prisioneiros e, embora tenha a idade de Bruno, não tem o
mesmo tamanho nem o físico saudável que ele.
O diretor Mark Herman trabalha em cima de uma
história que dificilmente seria ignorada por uma parcela do público ávida por
uma tragédia historicamente relevante e comercialmente pasteurizada –e é
exatamente isso que o filme é: Um produto que almeja bilheteria e consagração
em cima de atrocidades reais tão mais forçosamente tocante pela maneira com que
faz lembrar, nas entrelinhas, que esse é um sofrimento que o expectador está
isento de experimentar.
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