segunda-feira, 21 de maio de 2018

O Menino do Pijama Listrado


Em 2008, esta adaptação da obra de John Boyne emocionou muitos expectadores (e ainda emociona) com sua trama sobre os típicos horrores da Segunda Guerra Mundial aliada a uma denúncia que inclui o sofrimento de personagens infantis –uma manobra que invariavelmente arrebata qualquer indiferença do público.
Entretanto, poucos pararam para notar o quanto esta produção pega emprestado de uma obra muito superior: O clássico francês "Adeus, Meninos" de Louis Malle.
Como nele, é pelos olhos de um garotinho que enxergamos uma rotina cujos pequenos e incipientes detalhes fazem nossa percepção de adultos notar o horror que as distraídas crianças não notam –e já se pode debitar do mestre Malle um dos elementos mais notáveis desse filme.
O garotinho em questão, protagonista deste filme, é Bruno (Asa Butterfield, de “A Invenção de Hugo Cabret”), o filho de sete anos de um graduado oficial nazista (David Thewlis, sempre tirando de letra a ambigüidade desses personagens).
De pura ascendência alemã, Bruno vai com seu pai e sua mãe (a maravilhosa Vera Farmiga) e um campo de concentração onde seu pai é promovido como comandante.
Entediado pelas restritivas regras do lugar, Bruno encontra uma brecha no muro que separa a mansão onde sua família mora e todo o resto do lugar –que, sob rígida orientação, ele não deve visitar.
Inocente quanto às razões da guerra, o garotinho se intriga com a vestimenta das pessoas que encontra perambulando pelo campo de concentração.
Na ingenuidade de Bruno aqueles trajes parecem pijamas (na realidade, são prisioneiros judeus) e diante disso, ele não vê porque não se tornar amigo de um menino que conhece do outro lado da cerca. O menino é Shmuel (Jack Scanlon). É careca, está sempre vestido com o mesmo pijama que os outros prisioneiros e, embora tenha a idade de Bruno, não tem o mesmo tamanho nem o físico saudável que ele.
O diretor Mark Herman trabalha em cima de uma história que dificilmente seria ignorada por uma parcela do público ávida por uma tragédia historicamente relevante e comercialmente pasteurizada –e é exatamente isso que o filme é: Um produto que almeja bilheteria e consagração em cima de atrocidades reais tão mais forçosamente tocante pela maneira com que faz lembrar, nas entrelinhas, que esse é um sofrimento que o expectador está isento de experimentar.

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