Embora seja encarado, na opulenta filmografia
do diretor Ridley Scott, como uma obra menor, o épico “Cruzada” é um belo
exemplo das amplas capacidades dele como realizador; é, também, um exemplo de como
se construir um épico de maneira satisfatória: Sua narrativa é tensa, intensa,
romântica, grandiosa, lírica e violenta. E razoavelmente pontuada por
referências históricas pertinentes.
Seguindo o mesmo procedimento criativo adotado
por ele e por seus roteiristas ao criar “Gladiador”, Scott se detêm sobre um
momento notável da História Antiga –neste caso, a transição entre a segunda e a
terceira Cruzada de Jerusalém –criando um roteiro hábil em pairar sobre os
eventos fundamentais daquele momento, centralizando tudo isso em torno de um
protagonista fictício –talvez, o único personagem que não é real na trama.
Esse personagem vem a ser Ballian de Ibelin
(papel que Orlando Bloom agarra com unhas e dentes a fim de se livrar da imagem
de Legolas em “O Senhor dos Anéis”), viúvo e renegado ferreiro francês na
aldeia em que vive devido ao suicídio da esposa.
Ballian junta-se ao grupo de cavaleiros
templários de seu recém-conhecido pai (Liam Neeson) que o conduz até Jerusalém,
então um pólo de interesses religiosos e intrigas palacianas por conta da
tomada dos árabes, o que pode ser breve, pois Saladino (o ótimo Ghassan
Massoud), o líder militar dos muçulmanos espia a frágil trégua mantida a duras
penas pelo leproso rei de Israel (Edward Norton, irreconhecível atrás de
bandagens e maquiagem).
O possível sucessor do rei, Guy de Lousigniam
(Marton Csokas), é um homem selvagem e hostil que anseia por uma guerra contra
os muçulmanos. É essa oportunidade que Saladino espera para arremessar suas
tropas sobre a cidade e retomar Jerusalém. Nessa cruzada, o papel de Ballian
poderá ser fundamental.
Ainda que ocupe um ingrato lugar intermediário e
transitório na filmografia de Ridley Scott (não atinge o auge qualitativo e
artístico que ele demonstrou, em mais que uma vez, que é plenamente capaz de
alcançar; mas, está longe de ser uma de suas obras inferiores), “Cruzada” é um
épico belíssimo com magníficas e bem realizadas cenas de batalha, além de um
notável e variado elenco; acima de tudo, uma demonstração da técnica sólida e admirável
de um especialista no gênero.
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