quinta-feira, 14 de junho de 2018

O Banquete de Casamento


Mesmo ao realizar uma comédia, a percepção do drama relativa a Ang Lee se manifesta em sua obra dando novas direções ao que se iniciou com leveza e descontração.
Nem todos os cineastas são bem sucedidos nesse procedimento –o de moldar um filme ao sabor das intuitivas inclinações de sua história e de seus personagens –mas, Ang Lee, ao longo de diversos trabalhos em sua carreira mostrou-se um mestre em trabalhar essa maleabilidade.
Morador de Nova York vindo de Taiwan, Wai Tung (Winston Chao) teme revelar que é homossexual para sua mãe e, sobretudo, para seu pai (Sihung Lung, de “Comer Beber Viver”), ex-militar debilitado por um derrame cujo sonho é ver o filholhe dando um neto.
Ao lado do namorado norte-americano Simon (Mitchell Lichtenstein), Wai Tung elabora um plano para iludir seus pais que chegam à Manhattan para uma visita de duas semanas: Eles se valem da presença da artista Wei Wei (a linda May Chin) em seu apartamento para fazê-la se passar por noiva e iminente esposa de Wai Tung.
Com o casamento, Wei Wei conseguirá o visto de permanência nos EUA que tanto quer, e Wai Tung ostentará para os pais a esposa que ficavam cobrando.
Contudo, todos os planejamentos sofrem mudanças imprevisíveis: Se antes hospedariam-se por uma quinzena, a saúde frágil do pai de Wai Tung estende ainda mais a estadia; se a idéia era encenar um casamento sem importância, a aparição inesperada de um solícito amigo da família (e dono de um restaurante chinês, ainda por cima!) converte a festividade em um banquete com direito a todos os rituais e costumes.
Logo, o peso do embuste começa a ferir os relacionamentos reais que Wei Wei, Wai Tung e Simon escondem por detrás dele.
E o diretor Ang Lee não teme, no terço final, em contaminar seu tom bem-humorado com uma angustiante constatação de que nada será como antes –uma sombra de tristeza que vai pairando sobre o enredo sem que ele nunca deixe de ser envolvente e agradável.
Ainda orientado por uma espécie muito característica de drama urbano e familiar no qual se especializou no início de sua carreira –seus filmes só se tornaram mais diversificados em termos de temática e gênero após “Razão e Sensibilidade” –Ang Lee molda aqui uma obra que se inicia quase como comédia romântica (a referência à “Green Card-PassaportePara O Amor” não parece acidental), evolui para um drama hábil de costumes e culmina numa austera e sensata ode à unidade familiar.

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