Como em “Traffic” –o filme pelo qual venceu o
Oscar de Melhor Roteiro Adaptado –a estréia como diretor de Stephen Gaghan,
“Syriana”, é uma trama que amplifica seu tema central por meio de três linhas
narrativas fragmentadas que se ramificam e se complementam ao longo do filme.
De um lado, temos o agente da CIA Bob Barnes
(George Clooney, ganhador do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, mas certamente o
personagem principal do filme) cuja experiência em lidar com os meandros
complexos das negociações armamentistas travadas entre células terroristas
conquistou o milagre de mantê-lo vivo esses anos todos; ironicamente, sua
derrocada parece vir de dentro da própria CIA quando seus superiores começam a
mover um plano para torná-lo bode expiatório numa circunstância que tornou-se
desfavorável.
De outro lado, acompanhamos o conselheiro
financeiro norte-americano Bryan Woodman (Matt Damon), residente em Genebra,
que após uma tragédia familiar consegue uma inesperada proximidade com um
príncipe saudita disposto e usar de sua fortuna para melhorar as condições de
vida no Oriente Médio.
A terceira trama segue o advogado Bennett
Holiday (Jeffrey Wright) representante menor de uma indústria norte-americana
de extração petrolífera –e cuja influência tentacular de seus diretores atinge
as condições sócio-políticas dos moradores do Irã –sobre quem paira a
responsabilidade de viabilizar uma autorização de extração de petróleo cercada
por complicações legais que, não raro, esbarram em infrações consideráveis à
lei.
Como era de se esperar neste trabalho, Gaghan
honra seu passado de roteirista e executa magnificamente bem as amarras de seus
núcleos dando solidez à uma trama fácil de se perder, mas ele ainda acrescenta
uma direção austera e convicta (herança, talvez, de seu convívio com Steve
Sodenbergh) com a qual consegue tornar minimamente palatável esta incisiva (e
dada sua postura, surpreendente) crítica às extensões nocivas exercidas pelo
governo norte-americano nas mazelas dos países do Oriente Médio.
Seu trabalho une a contundência e a certeza de
realismo de um documentário à predisposição dramática e flexibilidade narrativa
de uma ficção –o melhor de dois mundos.
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