Na década de 1990, Jean Luc Godard já era um
nome lendário no cinema –e o próprio já acreditava piamente no mito que havia
sido criado em torno de si.
Suas obras já não oscilavam numa arguta busca
por voz e estilo –ou mesmo argumentação –então, o que parecia norteá-lo, como
artista, era uma algo prepotente tentativa de fazer jus à reputação que dele e
de seus filmes foram construídos.
“Infelizmente Para Mim” é fruto dessa fase.
Menos um filme ou até uma expressão artística,
e mais um esforço para observar as repercussões da própria relevância e, quem
sabe, um espasmo na intenção de manter essa mesma relevância.
Com efeito, o resultado é um filme-ensaio com
postura artística tão contundente que dificilmente será decifrado ou mesmo
apreciado por quem não está intimamente ligado ao que Godard significa.
Ele parte do princípio de alguns mitos nos
quais se baseia (sobretudo, no de Alcmena e Anfitrião) e deles extrai não uma
história mais um apanhado de situações e circunstâncias (e, talvez, lá no
fundo, a intenção abstrata de uma história) onde vislumbra uma tentativa de
Deus em experimentar sensações muito humanas e mundanas em meio à uma narrativa
que se impõe a necessidade de ousar todo o tempo: A cronologia é distorcida; a
incongruência entre o quê se vê e o quê se ouve é propositadamente divergente,
estranha e fragmentada; a encenação segue princípios impraticáveis de realismo
fantástico; as referências se amontoam em níveis que impossibilitam uma leitura
completa de tudo o que se passa em cena; e a direção de atores (entre eles,
Gerard Depardieu e Isabele Hupert) conduz o elenco por meio de seqüências que
até conseguem extrair alguma beleza e poesia do momento, mas cujo desvario em
nome da arte só leva a indagações que não encontram qualquer respiro.
Como em “Je Vous Salue, Marie”, realizado anos
antes, Godard mira na Igreja Católica com ousadia e despojamento visando fazer
barulho; mas, diferente daquele obra, esta aqui não parece expressar uma
vontade genuina de questionamento –é Godard apenas querendo continuar a ser
Godard para seus intelectuais admiradores que se perdem em argumentos para
enaltecê-lo.
E sabemos que podia ser bem mais que isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário