quarta-feira, 4 de julho de 2018

No Limite do Amanhã


Inúmeros foram os filmes que se aproveitaram do mote de “Feitiço do Tempo” –onde um mesmo dia se repete indefinidamente para o atormentado protagonista –poucos, porém, foram os que souberam usar esse conceito para criar algo igualmente notável e, mais ainda, com indiscutível rigor técnico de continuidade exigido por uma produção onde o mesmo evento se repete diversas vezes.
“No Limite do Amanhã”, que reuniu o astro Tom Cruise e o diretor Doug Liman (ambos fizeram juntos depois “Feito Na América”) gira em torno dessa premissa numa roupagem de ficção científica com invasão alienígena e pontuais inserções de filme de guerra: A arrojada cena de batalha no início do filme –e que, por repetição se estende por todo ele –é nitidamente inspirada, decalcada e influenciada de “O Resgate do Soldado Ryan”.
Há uma guerra contra uma raça ainda desconhecida de alienígenas no futuro. Não ficam muito claras as razões dessa batalha (como não ficam muito claras inúmeras questões deste filme), nem o porque do conflito se dar em terra, num campo de batalha, e não no espaço sideral. Dessa forma, a humanidade envia um batalhão de soldados a uma ofensiva em céu aberto, com consequências desastrosas.
Integrante escorregadio dos esforços de marketing desse conflito, o major William Cage (Tom Cruise, balanceando bem o humor e a estoicismo do personagem) é forçado a ir a campo e acaba morto logo nesse primeiro combate. No entanto, ao ser fulminado no mesmo instante em que seu sangue toca o sangue alienígena, ele adquire um inusitado dom roubado dos inimigos: Repetir aquele mesmo dia, toda a vez que morre, revivendo-o e reiniciando-o continuamente.
Até se dar conta de sua imprevista condição, o versátil diretor Liman vai saber muito bem orquestrar os ótimos momentos de humor que irão intercalar com as cenas de ação, pródigas em tudo que a indústria hollywoodiana tem de melhor em termos técnicos.
Em algum momento, Cage encontra a casca-grossa sargento Rita Vatraski (a ótima Emily Blunt), a única pessoa que parece compreender sua nova capacidade e ser capaz de instruí-lo a usá-la: Tentar retroceder todas as vezes, aprender cada vez mais, e procurar encontrar um meio de salvar a raça humana.
Embora certamente carente de originalidade por motivos óbvios, a premissa em si (extraída de uma história em quadrinhos japonesa) é inventiva na maneira com que as cenas se sucedem levando o expectador a envolver-se, tentando acompanhar os infortúnios improváveis dos personagens e as maneiras como a produção fará para recriar as mesmas sequências com pequenos diferenciais.
O entusiasmo do diretor Liman com esse material –que ele converte efusivamente num passatempo bem divertido –o faz relevar até mesmo inclinações mais evidentes e banais que contaminam a trama perto do final (como o envolvimento afetivo dos dois protagonistas).  E é notável o fôlego que Tom Cruise demonstra para personagens que dele exigem grande dedicação física.

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