segunda-feira, 22 de abril de 2019

O Presente

Nesta sua incursão na direção, o ator Joel Edgerton não esconde o apreço por Roman Polanski de quem pega emprestados estilos, características e premissa para o curioso conto de suspense que desenvolve –além de uma percepção bastante comum aos atores que se aventuram da direção de moldar uma narrativa cem por cento dependente da energia dos (bons) atores em cena.
“O Presente” tem início quando o casal Simon e Robyn (Jason Bateman e Rebecca Hall) volta a morar na mesma cidade em que ele cresceu.
Simon é ambicioso e tudo no qual consegue pensar é na disputa por um cargo elevado na empresa em que trabalha.
À Robyn, resta cuidar da nova casa e amargar a tristeza de uma gravidez que não se concluiu –ao mesmo tempo em que enxerga com melancolia as poucas chances de engravidar de novo.
Casualmente, eles se encontram com Gordon (Joel Edgerton) com quem Simon estudou no passado. As tentativas um tanto insistentes de Gordon em tornar-se amigo do casal –inclusive com inapropriados presentes deixados na porta da casa –encontram por sua vez uma hostilidade excessiva da parte de Simon.
Aos poucos, Robyn compreende que houve algo no passado dois. Algo que parece alimentar o estranho comportamento de Gordon, e do qual Simon se esquiva de falar de todas as maneiras.
Gradativamente, “O Presente” ensaia assim uma subversão daquilo que inicialmente propunha: Construía-se o palco para um daqueles típicos suspenses em que o psicopata desajustado começa a cercar e a assediar a família feliz norte-americana –algo potencializado na escolha dos atores; Jason Bateman que funciona tanto em comédias como em filmes sérios como este daqui, e Rebecca Hall, inglesa que cai como luva em papéis de boa moça –no entanto, com a chegada de novas informações do passado, Simon e Gordon vão revelando outras facetas que acabam invertendo a equação; e quem antes parecia ser o perigo em potencial pode vir a ser a vítima.
A condução bastante interessante de Joel Edgerton explora inúmeras oportunidades para criar circunstâncias e situações quase sempre notáveis do ponto de vista interpretativo. O seu manejo cuidadoso com as reviravoltas do material, porém, acaba levando-o a aliviar a mão na questão da atmosfera tensa: Com o zelo com que é levado, “O Presente” se mostra sutil demais para alarmar o expectador, objetivo principal de um filme de suspense.

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