Na distopia sugerida neste telefilme produzido
pela HBO, o ano de 2005 é um futuro próximo –ou seria, já que ele foi realizado
em 1993; um dado que o vislumbre das torres gêmeas do World Trade Center
intactas em uma cena não deixa passar despercebido –uma doença passada pelo
sangue dizimou grande parte da população (qualquer semelhança com a paranóia
ocasionada pela AIDS nos anos 1980 não é mera coincidência) e o governo dos EUA
instituiu um sistema de mão de ferro a fim de controlar o contágio e segregar
os infectados.
Uma parcela considerável de seu subtexto
crítico quer apontar sua munição contra o conservadorismo dos republicanos na
postura implausível e truculenta flagrada aqui: Numa das primeiras cenas, um
grupo de policiais anda pela rua. Sua linguagem corporal é a de uma milícia, um
de seus membros chega até mesmo a portar um rádio sobre o ombro enquanto
caminha fazendo lembrar mais um integrante de alguma gangue suburbana.
A protagonista vem a ser a jovem Blue (Moira
Kelly, de “Chaplin”) que, como toda protagonista alheia ao contexto
sócio-político de seu lugar, começa a trama indiferente às mazelas que a
cercam. Até que numa circunstância específica, ela e uma amiga (Martha
Plimpton, de “O Tiro Que Não Saiu Pela Culatra” e “Os Goonies”) precisam fugir
do jugo de policiais do hospital onde foram fazer um teste, e recebem a
improvável ajuda do rebelde Torch (Cuba Gooding Jr. fazendo o possível com o
pouco material que tem).
Apesar de uma animosidade latente, Blue e Torch
sentem uma imediata atração, o que os leva, nas noites seguintes, a travar
encontros arriscados e clandestinos.
Nesse processo Blue descobre que Torch não é
apenas um mero rebelde –ele é, sim, um líder revolucionário que tenta resgatar
o máximo possível de pessoas contaminadas e levá-las para longe da intolerância
do sistema: Os hospitais do governo tão somente criaram áreas de quarentena
onde os infectados são isolados e lá deixados para morrer.
Quando Torch é preso numa dessas áreas –que faz
muito lembrar “Ensaio Sobre A Cegueira” –Blue percebe que o fardo da liderança
pode acabar caindo sobre seus próprios ombros.
Dirigido pelo nada conhecido Stephen Tolkin e
inspirado na obscura peça teatral “Beirute”, escrita por Alan Bowne, este
suspense de (muito pouca) ficção científica conta com tanta carência de
recursos em seu orçamento que toda sua premissa supostamente futurista e sua
metáfora sobre a epidemia da AIDS se dilui na absoluta ausência de ambição de
seu escopo, obrigando a realização a se desenvolver mais na direção de um filme
de romance, preferindo falar do amor pueril entre Blue e Torch do que das implicações
morais e alegóricas embutidas em seu plot: A partir de um determinado trecho,
no que seria seu ‘clímax’ o filme tão somente se detêm no dilema entre os dois
apaixonados transar ou não transar (!) –isso porque Torch contrai a tal doença.
Esse caráter de incerteza termina não levando a
lugar algum: Seu romance não decola; sua crítica ao estilo “1984 de Orwell” não
se concretiza; e seus outros objetivos narrativos –quaisquer que fossem –não se
expressam a contento.
Ainda que traga um pouco da
formosa nudez de Moira Kelly e da excelência de Cuba Gooding Jr., é um filme
banal, moroso e redundante.
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