quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Harry Potter e As Relíquias da Morte - Parte 2

Havia uma intenção bastante específica quando foi tomada a decisão de dividir o último livro da “Saga Harry Potter” em dois filmes: Traduzir o conteúdo da história, profundamente elucidativa para com todas as pontas soltas deixadas ao longo dos outros seis livros, da forma mais completa possível –essa prática chegou até a influenciar outras sagas adolescentes posteriores oriundas da literatura como “Crepúsculo” e "Jogos Vorazes”, cujo livro final também foi dividido em filmes Parte 1 e Parte 2.
Ironicamente, é nesse aspecto que o último filme dirigido por David Yates deixa a desejar –como veremos mais a frente.
“As Relíquias da Morte-Parte 2” retoma exatamente o ponto em que a “Parte 1” abandonou o público, quando Voldemort enfim pôs as mãos na poderosa ‘varinha das varinhas’ e Harry Potter, ainda perplexo, testemunhou o nobre sacrifício do elfo Dobby.
O filme prossegue daí quando Harry, Hermione e Rony almejam agora encontrar as outras horcruxes –os artefatos de magia negra imbuídos de fragmentos da alma de Voldemort: E só para constar, até este ponto da trama, dentre todas as sete horcruxes já foram mostradas três (o diário de Tom Riddle, destruído em “A Câmara Secreta”; um anel, destruído por Dumblodore à duras penas; e o medalhão do qual Harry e Rony deram cabo no filme anterior).
As quatro que ainda faltam, de certa maneira, determinam a narrativa do filme: A quarta, uma taça enfeitiçada, guardada no Banco Gringotes, regido por desconfiados duendes –e dentro do qual os três jovens vão audaciosamente tentar entrar com o pouco confiável auxílio do duende Grampo (o sensacional Warwick Davis, de “Willow-Na Terra da Magia”). E tome mais uma cena espetacular quando os três fogem do banco sobre as costas de um dragão!
A quinta, um lendário diadema roubado da Casa de Corvinal, obriga Harry e seus amigos a voltarem para Hogwarts, onde Severo Snape prevalece como diretor impondo os desmandos do Lorde das Trevas e submetendo os alunos a um regime ditatorial –é na busca por essa horcrux que Harry se depara com o fantasma de Helena Ravenclaw, vivido por Kelly MacDonald, a estrela de “The Girl In The Café”, também dirigido por Yates.
A sexta horcrux, numa manobra até bem óbvia vem a ser a fiel e mortífera cobra Nagini, sempre próxima de Voldemort, enquanto que a sétima e última, revelada no clímax, vem a ser o próprio Harry Potter (!), que deve ser sacrificado para que o Lorde das Trevas pereça.
Na esteira dessas revelações e acontecimentos –que, por sua proximidade fidedigna ao material literário, agrega um excesso de informações que pode confundir muitos expectadores –o diretor Yates escancara suas predisposições épicas, já perceptíveis na gradual elevação de escopo em seus filmes anteriores (especificamente iniciada em “O Enigma do Príncipe”), mas abraçadas por inteiro aqui na grandiloquente batalha do bem contra o mal que toma Hogwarts como cenário na última hora de filme, quando praticamente todos os personagens (alguns interpretados por atores famosos que surgem como pontas) comparecem deste ou daquele lado.
Não há dúvida de que a possibilidade de abreviar o mínimo possível os acontecimentos do livro beneficiou o filme. Contudo, se a “Parte 1” resulta primordial e empolgante por conta disso, a “Parte 2” sofre pequenas complicações: É maravilhoso poder ver muitos trechos do livro preservados na íntegra (e uma pena constatar que isso infelizmente não ocorre com tanta frequência em adaptações cinematográficas em geral), no entanto, é estranho que justamente a sequência do livro que melhor justifica a divisão em duas partes seja exatamente a que acaba negligenciada pela narrativa –trata-se do momento em que Harry Potter contempla as memórias de Severo Snape (Alan Rickman, certamente o grande ator de toda saga), até então tratado como um dos grandes vilões da história. Por meio desse momento brilhante, Harry (e o público junto com ele) descobre as reais motivações de Snape e o porque dele ser, sem que soubéssemos, um dos grandes heróis da saga!
Um momento revelador, emocional e surpreendente que merecia no filme o mesmo zelo e cuidado demandado no livro; do jeito como ficou –numa montagem de cenas simultâneas, quase a lembrar um videoclipe –pode até suscitar algumas emoções, mas está longe do impacto que poderia ter se ganhasse a mesma atenção de algumas cenas de ação.
Claro que essas são impressões menores: Do jeito como está, “As Relíquias da Morte-Parte 2” se mantêm como um final apoteótico, arrebatador e digno para uma das sagas cinematográficas mais marcantes dos últimos tempos.

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