terça-feira, 26 de novembro de 2019

Harry Potter e A Câmara Secreta

Se o segundo filme de saga é, com frequência, apontado por público e crítica como um dos mais desinteressantes da série, ele é também um dos que mais cresce numa revisão.
O primeiro dos filmes a experimentar a consequência notável de como a série registrou, entre outras coisas, o efeito do tempo sobre seu elenco jovem –o ano que separa este de “A Pedra Filosofal” já é perceptível no amadurecimento das crianças –“A Câmara Secreta” dá início ao processo no qual a narrativa lúdica na história de Harry Potter agrega mais e mais elementos sombrios e, por que não, adultos, à sua trama, embora se note que Chris Columbus não pareça muito à vontade com esse teor do material. Ainda assim, ele realiza um belo trabalho valendo-se de diversas cenas (sobretudo de enquadramentos nos diálogos) onde procura empregar de um desigual prologamento de tempo, muito parecido com o usado por Peter Jackson um ano antes em “OSenhor dos Anéis-A Sociedade do Anel”.
Ávido por iniciar seu segundo ano escolar na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, Harry amarga uma angústia ocasionada pelas últimas férias –durante todo o verão, não recebeu uma única carta de seus amigos, Rony e Hermione. Esse é um dos mistérios –dentre os muitos que aqui se somam –que logo ganha uma explicação: Doby, um elfo doméstico dotado de poderes mágicos (e concebido por meio de um primoroso processo de computação gráfica) cismou que Harry não deve, de forma alguma voltar para Hogwarts, caso contrário, coisas terríveis acontecerão.
Assim, Doby dá o estopim a muitas confusões que definem “A Câmara Secreta”: Deixa Harry em maus lençóis com seus tios, o que lhe acarreta um castigo, trancado dentro de seu quarto; em seu resgate vem Rony e seus irmãos que, à bordo de um carro voador, o levam na calada da noite. É Doby também que frustra os planos de Harry e Rony em pegar o Expresso Para Hogwarts –obrigando os dois a lançar mão, mais uma vez, do carro voador –numa das sequências mais sensacionais do filme.
Finalmente na escola, Harry, a medida que o tempo desse segundo ano passa, eventualmente descobre as razões dos temores do elfo: Uma pixação numa das paredes do lugar evidencia a ameaça –“A câmara secreta foi aberta... inimigos do herdeiro, preparem-se!”
Na esteira desse mistério, personagens começam a aparecer petrificados (primeiro a gata do zelador Filty, depois alguns dos alunos), indicando que um terrível monstro –até então preso na tal câmara –está agora à solta em Hogwarts.
Além disso, Harry descobre que seu poder de comunicar-se com cobras (como foi visto numa das primeiras cenas de “A Pedra Filosofal”) não é algo comum aos bruxos; na verdade, é uma particularidade atribuída quase exclusivamente ao tenebroso Lorde Voldemort.
Todos esses fatores têm o mérito de parecer aleatórios num primeiro momento, mas vão se unindo aos poucos, como pontas soltas numa bem elaborada e detalhada costura.
Seguindo uma fórmula similar ao do filme anterior –fato que incomoda, inclusive, porque a direção de Columbus se revela bastante exaurida em muitos momentos –este segundo filme deixa enfatizado, acima de tudo, que Hogwarts não é um local tão seguro quanto se presumia; tudo o mais que ele poderia fazer, deixa em aberto para os filmes vindouros, estes sim, responsáveis por iniciar a trama propriamente dita do embate das forças do bem contra o mal.
“Harry Potter e A Câmara Secreta” marca também a despedida do saudoso Richard Harris no papel de Alvo Dumblodore, personagem que, neste filme, ele fez questão de interpretar até o fim, em algumas cenas, necessitando de aparelhos para se manter em pé e respirando –nada disso se percebe em cena, claro, resultado da competência da equipe técnica e da brilhante tenacidade desse grande ator.

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