Se o segundo filme de saga é, com frequência, apontado
por público e crítica como um dos mais desinteressantes da série, ele é também
um dos que mais cresce numa revisão.
O primeiro dos filmes a experimentar a
consequência notável de como a série registrou, entre outras coisas, o efeito
do tempo sobre seu elenco jovem –o ano que separa este de “A Pedra Filosofal”
já é perceptível no amadurecimento das crianças –“A Câmara Secreta” dá início
ao processo no qual a narrativa lúdica na história de Harry Potter agrega mais
e mais elementos sombrios e, por que não, adultos, à sua trama, embora se note
que Chris Columbus não pareça muito à vontade com esse teor do material. Ainda
assim, ele realiza um belo trabalho valendo-se de diversas cenas (sobretudo de
enquadramentos nos diálogos) onde procura empregar de um desigual prologamento
de tempo, muito parecido com o usado por Peter Jackson um ano antes em “OSenhor dos Anéis-A Sociedade do Anel”.
Ávido por iniciar seu segundo ano escolar na
Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, Harry amarga uma angústia ocasionada
pelas últimas férias –durante todo o verão, não recebeu uma única carta de seus
amigos, Rony e Hermione. Esse é um dos mistérios –dentre os muitos que aqui se
somam –que logo ganha uma explicação: Doby, um elfo doméstico dotado de poderes
mágicos (e concebido por meio de um primoroso processo de computação gráfica)
cismou que Harry não deve, de forma alguma voltar para Hogwarts, caso
contrário, coisas terríveis acontecerão.
Assim, Doby dá o estopim a muitas confusões que
definem “A Câmara Secreta”: Deixa Harry em maus lençóis com seus tios, o que
lhe acarreta um castigo, trancado dentro de seu quarto; em seu resgate vem Rony
e seus irmãos que, à bordo de um carro voador, o levam na calada da noite. É
Doby também que frustra os planos de Harry e Rony em pegar o Expresso Para
Hogwarts –obrigando os dois a lançar mão, mais uma vez, do carro voador –numa
das sequências mais sensacionais do filme.
Finalmente na escola, Harry, a medida que o
tempo desse segundo ano passa, eventualmente descobre as razões dos temores do
elfo: Uma pixação numa das paredes do lugar evidencia a ameaça –“A câmara
secreta foi aberta... inimigos do herdeiro, preparem-se!”
Na esteira desse mistério, personagens começam
a aparecer petrificados (primeiro a gata do zelador Filty, depois alguns dos
alunos), indicando que um terrível monstro –até então preso na tal câmara –está
agora à solta em Hogwarts.
Além disso, Harry descobre que seu poder de
comunicar-se com cobras (como foi visto numa das primeiras cenas de “A Pedra
Filosofal”) não é algo comum aos bruxos; na verdade, é uma particularidade
atribuída quase exclusivamente ao tenebroso Lorde Voldemort.
Todos esses fatores têm o mérito de parecer
aleatórios num primeiro momento, mas vão se unindo aos poucos, como pontas
soltas numa bem elaborada e detalhada costura.
Seguindo uma fórmula similar ao do filme
anterior –fato que incomoda, inclusive, porque a direção de Columbus se revela
bastante exaurida em muitos momentos –este segundo filme deixa enfatizado,
acima de tudo, que Hogwarts não é um local tão seguro quanto se presumia; tudo
o mais que ele poderia fazer, deixa em aberto para os filmes vindouros, estes
sim, responsáveis por iniciar a trama propriamente dita do embate das forças do
bem contra o mal.
“Harry Potter e A Câmara
Secreta” marca também a despedida do saudoso Richard Harris no papel de Alvo
Dumblodore, personagem que, neste filme, ele fez questão de interpretar até o
fim, em algumas cenas, necessitando de aparelhos para se manter em pé e
respirando –nada disso se percebe em cena, claro, resultado da competência da
equipe técnica e da brilhante tenacidade desse grande ator.
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