O começo do fim. Desde os eventos irreversíveis
do desfecho de “O Enigma do Príncipe” –isto é, a morte de Dumblodore e a opção
definitiva (ou não) de Severo Snape em aliar-se ao mal –o clima obtido para
este derradeiro filme era de urgência com uma notável atmosfera de
inevitabilidade.
Ainda assim, os produtores não deixaram de
fazer das suas para ficar um tempo a mais com a galinha dos ovos de ouro em
mãos: Ao adaptar o último livro da saga, optou-se pela decisão de realizar não
um, mas dois filmes extraídos do livro, com a desculpa (bastante razoável e
bastante significativa para ambos os filmes) de que o máximo do material
literário poderia ser mantido na adaptação.
Portanto, esta primeira parte de “As Relíquias
da Morte” abrange cerca de 60% do livro, reservando os desenlaces mais
contundentes para a segunda parte, o quê não impede este de ser, também ele, um
trabalho muito bom.
Harry Potter está prestes a completar dezessete
anos, e com isso, o feitiço de proteção que o mantinha a salvo na casa de seus
tios irá se acabar. A fim de salvá-lo e levá-lo a um lugar seguro, já no início
do filme, vários personagens (muitos introduzidos ao longo dos diversos filmes
anteriores) unem-se para despistar os terríveis Comensais da Morte –e já nessa
cena eletrizante, o diretor David Yates mostra que não está para brincadeiras.
Ele exibe a escala de cenas de ação ampliada desde o memorável filme anterior,
ostenta um domínio vertiginoso de narrativa que, mesmo sendo este seu terceiro
filme na franquia, continua a surpreender, e não poupa o expectador e seus
personagens de apuros ameaçadores de verdade; o conto de fadas pueril
vislumbrado em “A Pedra Filosofal” há tempos não existe mais.
Após a breve e alentadora cena de casamento
entre Gui (Doomhaal Gleeson), irmão de Rony, e Fleur (de “O Cálice de Fogo”) as
circunstâncias imediatamente se complicam: O Ministério de Magia é invadido e
dominado pelos Comensais da Morte. O Lorde das Trevas, Voldemort, passa a
comandar então o mundo bruxo.
Harry, Rony e Hermione fogem e, ao longo de
meses absolutamente angustiantes, passam a viver de maneira nômade, tentando
encontrar uma forma de dar prosseguimento ao plano de Dumblodore –de achar as
‘horcruxes’, que contêm fragmentos da alma de Voldemort, para que possam assim
matá-lo –sem, no entanto, nenhum recurso, nenhum auxílio e nenhuma informação.
E é a partir daí que Hermione tem a
oportunidade de brilhar como nunca o fez antes, tanto pela imensa
funcionalidade da personagem, como pelo talento e carisma da atriz que a
interpreta, a bela Emma Watson.
Enquanto isso, e de maneira narrativamente
sucinta (ainda que perspicaz), o filme mostra a extensão do mal no mundo bruxo,
com Hogwarts sendo dominada por Comensais da Morte (Severo Snape é nomeado seu
novo diretor), o Ministério da Magia trabalhando em função da obliteração de
pessoas normais, destituídas de magia, e o nome de Harry Potter difundido como
o “Indesejável Nº 1”.
São todas informações que ratificam a sensação
de desamparo experimentada pelos jovens protagonistas, e que este filme é
imensamente feliz em compartilhar com o público –em grande parte, auxiliado
pela fácil identificação do expectador com personagens que ele já conhece há
anos; e que, em muitos casos da plateia, cresceram junto com os próprios atores
principais.
Como numa espécie de tradição que a série
passou a adotar desde “O Cálice de Fogo”, os realizadores escolheram, como
ponto de ruptura na narrativa do livro, a sequência fatídica e consternadora da
morte de um querido personagem para encerrar este filme –uma jogada inteligente
que dá a um filme originalmente concebido para prescindir de um desfecho um
desenlace amargo, porém válido e certamente impactante.
Ao final desta “Parte 1”,
as apostas na luta do bem contra o mal estão altas e o público, ávido para
conferir das emoções derradeiras reservadas pela “Parte 2”.
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